Brasil e México merecem discutir livre comércio, diz Peña Nieto
Vitorioso nas eleições mexicanas, no último dia 1, o candidato do PRI (Partido Revolucionário Institucional), Enrique Peña Nieto, disse que quer terminar com o clima de competição com o Brasil com relação a temas de política regional.
Peña Nieto, 45, que bateu seu oponente da esquerda, Andrés Manuel López Obrador, por uma diferença de 7 pontos percentuais (38,1% contra 31,6%), diz que considera as manifestações estudantis contra si "genuínas" e que está disposto a dialogar com os jovens.
Leia, abaixo, a entrevista que concedeu à Folha, por telefone, desde a Cidade do México.
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Folha - Como o sr. avalia a relação entre México e Brasil hoje?
Enrique Peña Nieto - Há equilíbrio na balança comercial, mas muito a ser feito com relação à integração política, cultural, e mesmo econômica. Não me adiantaria a defender um acordo de livre comércio agora, mas é um tema que mereceria ser discutido.
O sr. considera que existe um clima de competição entre os dois países hoje por conta da influência na política regional?
Sim, há, e não deveria. São os dois países mais importantes da América Latina e deveriam atuar de forma mais integrada na mediação de crises regionais. Ambos têm um amplo histórico com relação a isso.
A abertura da Pemex (Petroleos Mexicanos) ao capital privado foi uma de suas bandeiras na campanha. Quão importante é o modelo da Petrobras para levar adiante seu projeto?
É essencial. O modo como o Brasil realizou a abertura de capital de sua empresa estatal petrolífera é um exemplo internacional que pretendemos usar, aproveitando a experiência de vocês.
O sr. precisará mudar a Constituição para isso. Como pensa consegui-lo, sem ter a maioria no Congresso?
Nenhum dos três maiores partidos tem maioria. Isso significa que este será um governo de muita negociação e estamos nos preparando para isso. Estou otimista. Afinal, nos últimos 12 anos ninguém teve maioria e se viveu um momento de paralisia política. Agora vejo clima de debate e quero incentivá-lo. Tenho certeza de que as boas ideias serão aprovadas.
O México, na gestão do presidente Felipe Calderón (PAN), fez críticas ao protecionismo praticado por países do Cone Sul, como Brasil e Argentina. O sr. está de acordo?
Não. Tenho muito respeito pelas decisões que são tomadas por meio de acordos entre países democráticos. Prefiro concentrar forças e em encontrar espaços e oportunidades para fortalecer os vínculos do México com o bloco, assim como com os outros países da América Latina.
Claudia Daut/Reuters | ||
O presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, quer melhorar a relação com o Brasil |
A América Latina será uma prioridade?
É claro que pela proximidade do México com os Estados Unidos, essa relação tem muita importância, são nosso principal sócio, além de termos políticas que se referem a problemas comuns. Mas tem sido um erro menosprezar as relações com o resto do continente e pretendo fazer com que o México olhe mais para o sul. Entendo que o sonho bolivariano de integração das Américas segue sendo válido.
Como o sr. vê a crise no Paraguai e seus impactos na região?
Acompanho com apreensão, e torço para que se resolva dentro da legalidade e, o mais importante, de forma pacífica. Tenho muito respeito pelas decisões internas de um país. Creio que teria feito o mesmo que o presidente Calderón, chamaria o embaixador para consultas. Mas para entender melhor o processo interno, nunca para tentar intervir na tomada de decisão por parte dos paraguaios.
O sr. falou com a presidente Dilma Rousseff?
Sim, conversamos ao telefone e ela me convidou para ir ao Brasil, viagem que devo realizar ainda no período de transição [a posse é no dia 1 de dezembro]. Creio que a relação de dois países depende muito da relação pessoal dos dois chefes de Estado e espero construir um bom vínculo com sua presidente.
Agora que já foi feita a recontagem dos votos pedida pela esquerda, e confirmada sua vitória, crê que terá um horizonte tranquilo para a transição?
Sim, o México já não vive mais o mesmo cenário de insegurança política de 2006 [quando a esquerda, derrotada por quantidade mínima de votos, promoveu protestos], e nossa vitória se deu por uma margem mais ampla.
Ainda assim, estou consciente de que a oposição está enfática em sua determinação de tentar impugnar a eleição. Reconheço o direito que tem de buscar as vias legais. Porém, o resultado já foi anunciado e confirmado, não é provável que alguma coisa mude.
O movimento estudantil "#YoSoy132" teve muita visibilidade, inclusive internacional, durante a campanha. O sr. pretende fazer algum movimento de aproximação com relação a ele?
Considero esse grupo genuíno e sua expressão legítima. Lamento o fato de terem se voltado contra mim e em apoio ao candidato da esquerda, apesar de se dizerem apartidários. Considero suas causas justas e tenho disposição para dialogar.
Só não posso considerar que sejam a expressão do desejo de todos os jovens mexicanos e tenho de pensar na questão como um todo. Nesse sentido, pretendo reforçar as políticas de educação e emprego, que são os itens que mais afetam a vida do jovem mexicano hoje.
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