Milhares de argentinos ocupam as ruas contra governo de Kirchner
Milhares de argentinos se concentram na noite desta quinta-feira no centro histórico de Buenos Aires em um protesto convocado nas redes sociais contra as políticas do governo da presidente Cristina Kirchner. Em Nova York, Washington, Miami, Paris, Roma, Madri e Toronto, manifestantes também foram às ruas, batendo panelas e exibindo faixas em frente aos postos diplomáticos da Argentina.
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Fontes policiais relataram ao jornal argentino "Clarín" que pelo menos 20 mil pessoas estavam reunidas no centro histórico da capital.
O tema dominante do protesto é a revolta contra a tentativa de algumas correntes políticas oficialistas em viabilizar uma segunda reeleição consecutiva para a presidente Kirchner, algo por enquanto vedado pelas leis argentinas. A frase "8N. Sim à democracia. Não à re-reeleição" se tornou um slogan informal do movimento nas redes sociais.
Mas os argentinos também estão insatisfeitos com as regras duras do governo que limitam a compra e venda de dólares --um ativo bastante popular num país onde as pessoas costumam fazer poupança e negociar imóveis nessa moeda.
A revolta com o aumento dos casos de violência também era outra reclamação bastante visível. Entre faixas de protesto contra a corrupção e falta de liberdade, havia grande cartaz com os dizeres "chega de mortes" em meio aos manifestantes.
O famoso obelisco da avenida 9 de Julio, uma das principais vias da cidade, está tomado de argentinos de todas as idades, portanto bandeiras, faixas de protestos, e panelas, a tradicional "ferramenta" das manifestações populares nesse país.
"Eu quero voltar, mas como está agora a situação não posso retornar. Está muito complicado para todos", diz Micaela, 29, à agência France Presse. A jovem argentina foi uma das 150 pessoas que bateram panelas em frente ao consulado de seu país em Londres.
"O mais importante para mim é a [questão da] segurança e da falta de liberdade. Já não há liberdade de expressão. Não se pode trocar dólares, a população não pode poupar em dólares. É uma vergonha", diz ela.
Os panelaços anti-Cristina começaram em maio e tiveram em 13 de setembro seu maior evento, que reuniu mais de 200 mil pessoas, na Praça de Maio e outros pontos da capital. O protesto de hoje, devido ao número de pessoas, já está sendo considerado equivalente à mobilização de setembro.
Além dos protestos na capital e nos consulados no estrangeiro, o "Clarín" relata ainda manifestações de algumas centenas de pessoas no interior do país, em Córdoba, Mendoza, Rosario, Salta e Tucumán.
MANDATOS
A presidente argentina cumpriu seu primeiro mandato entre 2007 e 2011, reelegendo-se até 2015.
A Constituição do país veta um novo mandato para Cristina Kirchner, mas recentemente alguns políticos oficialistas manifestaram a intenção de emendar a lei nacional para abrir a possibilidade de um terceiro período na Casa Rosada.
Uma sondagem recente sugere que a ideia não é popular entre os argentinos: 80% dos entrevistados pela consultoria Management & Fit dissera ser contra um novo mandato de Kirchner.
Analistas políticos avaliam que a presidente argentina, que já teve um nível de popularidade maior, dificilmente conseguiria força política suficiente para obter os dois terços do Congresso nacional necessários para emendar a Constituição.
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