Shelly Yachimovich tenta renovar trabalhistas em eleições israelenses
A candidata trabalhista Shelly Yachimovich enfrenta no dia 22 seu primeiro sério desafio nas urnas com o orgulho de ter ressuscitado seu partido e promovido leis importantes para os trabalhadores, mas tem poucos motivos para esperança, devido à impossibilidade prática de governar previstas pelas pesquisas.
Nascida em 1960 em uma humilde família polonesa de sobreviventes do Holocausto que se estabeleceu em Kfar Saba, perto de Tel Aviv, Shelly é uma respeitada ex-jornalista que há oito anos trocou seu influente programa de entrevistas na televisão pela política, convencida da necessidade de renovar e rejuvenescer o histórico Partido Trabalhista.
Feminista, foi subindo nas pesquisas eleitorais (era a nona em 2006, foi a quarta em 2009) até vencer as primárias de 2011 para a liderança do partido, enfraquecido pela saída de seu até então dirigente, Ehud Barak.
Shelly se tornava assim a segunda mulher, após a primeira-ministra Golda Meir (1898-1978), a presidir a legenda que monopolizou o poder durante as três primeiras décadas do país, fundado em 1948.
Nir Elias/Reuters | ||
Shelly Yachimovich durante econtro com jornalistas na sede do Partido Trabalhista em Tel Aviv |
PAZ EM SEGUNDO PLANO
Sua estratégia consiste em situar o tema socioeconômico no topo da agenda, deixando a paz com os palestinos em segundo plano, convencida de que essa reorientação responde às verdadeiras preocupações dos israelenses.
Tanto é que seu alter ego no principal programa de sátira política do país, "Eretz Nehederet", entra algumas vezes em cena cantando "social! democrata!".
Em seu histórico como deputada estão leis como a proteção dos empregados que revelam práticas de corrupção, o prolongamento da licença de maternidade, a introdução de transparência nas atividades dos grupos de pressão e até a incorporação dos modestos direitos como o de se sentar ou ir ao banheiro em horário laboral.
Uma convicção construída ao longo de sua bem-sucedida carreira no jornal impresso, no rádio e na TV, na qual se distinguiu por suas denúncias de abusos empresariais e dos excessos das privatizações e a desregulação.
A mudança ideológica funcionou no início: o partido saiu da inércia, ela sozinha atraiu milhares de novos militantes e se mostrou uma líder pé-no-chão (vive numa casa de 80 metros quadrados, anda frequentemente de bicicleta por Tel Aviv e torna pública sua renda), em contraste com o caro estilo de vida de seu antecessor, Barak, que morava em um apartamento de luxo com 450 metros quadrados.
Apesar de renovar o Trabalhismo, no entanto, a candidata está se afastando dos eleitores mais à esquerda do partido.
Para começar, suas raras menções à ocupação dos territórios palestinos e suas posturas sobre o conflito, mais aproximadas da direita, desagradaram seu eleitorado mais esquerdista e levaram à saída de dirigentes históricos.
ADEUS, ESQUERDA
Na reta final da campanha, Shelly perdeu um deputado por semana nas pesquisas, em parte por declarações polêmicas, como a de que manteria o robusto financiamento à colonização judaica de Jerusalém Oriental da Cisjordânia, a de que seu partido e Yitzhak Rabin nunca foram de esquerda e a de que é a favor de que se cante o hino nacional nas escolas.
A isso se soma sua desconcertante ambiguidade, só derrubada neste mês pela evasão de votos, sobre se entraria no governo com o direitista primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que a fez aparecer como uma política oportunista a mais em busca de um futuro Ministério.
Posições bem distantes de seu "passado rebelde", quando foi expulsa do colégio por pendurar cartazes de protesto, recusou a se casar pelo Rabinato (hoje é divorciada e tem dois filhos) e votou no partido judeu-árabe de inspiração comunista, Hadash, o que a imprensa direitista se encarrega de lembrar com frequência.
Seus inimigos políticos podem, no entanto, dormir tranquilos: Shelly é formada em Ciências do Comportamento pela Universidade Ben Gurion do Negev e escreveu um ensaio sobre seu projeto para Israel (além de dois romances), mas a direita, com seus slogans de segurança, parece entender melhor a psiqué israelense, a julgar pelas intenções de voto.
As últimas pesquisas dão ao Trabalhismo 16 deputados, menos da metade (34) que a chapa de Netanyahu, e com o partido ultradireitista Habait Hayehudí chegando logo atrás, como segunda força política.
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