Na praça de Maio, fiéis gritam: 'O papa é argentino'
O número de sócio-torcedor do clube de futebol San Lorenzo de Jorge Mario Bergoglio é 88.235. Na loteria nacional argentina de ontem, o número sorteado foi o 8.235.
Muitos já aproveitaram a coincidência para interpretar como o primeiro milagre do novo papa.
"A escolha de Bergoglio é um milagre", disse Gloria Mairán, 76, em frente à Catedral Metropolitana de Buenos Aires.
"Para o momento que estamos vivendo na Argentina, com medo e violência, a designação de Bergoglio é muito importante para os jovens renovarem a esperança."
Dentro da catedral da cidade, em frente à histórica praça de Maio, constantes aplausos antes da missa pelo novo papa eram ouvidos do lado de fora. "Argentino! O papa é argentino!", entoavam.
"Francisco, te ama o mundo inteiro", repetiam os fiéis na praça acostumada mais a protestos do que a festas.
Da catedral, Bergoglio, como arcebispo de Buenos Aires, rezou diversas missas críticas aos políticos. Sempre atacou a corrupção, a desigualdade social, os discursos populistas, os conflitos setoriais e até a política econômica dos Kirchner.
"Espero que a justiça divina o ilumine. Ele sempre foi contra a corrupção e contra a mentira deste governo. Muitos no governo não estão felizes, mas o povo está", compara Ana Piñeyro, 50. "Ele fez a minha primeira comunhão no colégio", acrescenta a filha Belém, 17.
Bergoglio sempre foi um motivo de inspiração aos jovens, com seu jeito humilde e missioneiro. Jesuíta, frequentava as favelas, tinha contato direto com os mais pobres e com frequência era visto em ônibus ou no metrô.
Para muitos, a designação reflete a mudança no mundo. "A metade dos católicos está na América Latina. A igreja apostou nesta região para evangelizar um mundo em crise", interpreta o seminarista peruano Javier Bastos, 27.
FAMÍLIA BERGOGLIO
Emanuel Bergoglio, 37, sobrinho do papa, consultado pela reportagem, preferiu ser discreto, característica da família. Devota de são Francisco, a família prega a humildade e a aproximação com os pobres. "Prefiro não falar com a imprensa. Recebi a notícia com alegria e preocupação pela carga e pelo novo desafio. Só posso dizer que rezo por ele desde que era só sacerdote".
"Rezem por mim", foi sempre o pedido de Jorge Bergoglio ao finalizar cada conversa em qualquer favela argentina.
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