Padre sequestrado na ditadura diz que se reconciliou com Francisco
O padre jesuíta Francisco Jalics, um dos padres sequestrados pela última ditadura argentina (1976-1983), disse que se reconciliou com o cardeal Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, há mais de dez anos. O novo pontífice é acusado de omissão com o governo militar.
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Jalics foi preso pelas forças armadas em 1976, junto com Orlando Yorio, quando ambos atuavam em uma favela de Buenos Aires durante a ditadura. O jornalista Horacio Verbitsky diz, no livro "O Silêncio", que Bergoglio, líder do grupo de ajuda, foi cúmplice ao denunciar os sacerdotes, considerados subversivos.
Em nota publicada pela ordem jesuíta de Munique, pela qual hoje atua, o padre sequestrado diz que se reconciliou com o novo papa em 2000, quando viajou a Buenos Aires a pedido da arquidiocese da capital argentina para "abordar a questão".
"Depois disso, celebramos uma missa pública juntos e nos abraçamos solenemente. Estou reconciliado com ele e considero o assunto encerrado", disse, em nota, acrescentando que não deseja mais comentar sobre o assunto.
No documento, ele atribui a "desinformação deliberada" a sua prisão junto com Yorio, e fala dos cinco meses que estiveram presos na ESMA, principal centro de torturas que funcionou em Buenos Aires no fim dos anos 70.
O padre frisa que nem ele nem Yorio tinham ligações "nem com a junta nem com a guerrilha", mas mesmo assim foram interrogados por cinco dias e, segundo conta, ficaram presos de olhos vendados por cinco meses.
Jalics, que hoje tem 85 anos, mora na Alemanha desde 1978, quando partiu ao exílio, e atua na cidade de Wilhelmsthal, a 284 km de Munique. O porta-voz da ordem jesuíta, Thomas Busch, disse que o sacerdote está em viagem à Hungria e negou que ele tenha se escondido após a eleição do papa.
No fim da nota, desejou "bênçãos abundantes de Deus para o papa Francisco em sua missão".
VATICANO
Nesta sexta (15), o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que o papa Francisco nunca colaborou com a ditadura militar e é alvo de uma campanha "caluniosa e difamatória" na Argentina.
Ele disse que as acusações de que Bergoglio teria sido negligente com a prisão política de dois padres jesuítas "devem ser rechaçadas de forma contundente".
"Nunca houve uma acusação concreta e confiável contra ele. A Justiça argentina o interrogou uma vez, mas como pessoa informada dos fatos, e jamais o acusou de nada", disse Lombardi.
"A camapanha contra Bergoglio é bem conhecida e se refere a fatos ocorridos há muitos anos. É uma campanha caluniosa e difamatória. Sua origem anticlerical é muito conhecida e evidente", disse.
Lombardi disse que muitos depoimentos mostram que Bergoglio protegeu pessoas perseguidas pela ditadura na Argentina. Ele também citou declarações do escritor Adolfo Pérez Esquivel, que disse nos últimos dias que o papa não colaborou com os militares.
Com informações de BERNARDO MELLO FRANCO, enviado especial a Roma, e de GRACILIANO ROCHA, colaboração para a Folha, em Paris.
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