Chipre diz que precisa de taxa para alcançar meta de economia da UE
O Chipre anunciou nesta terça-feira que não conseguirá alcançar a meta de economia exigida pelos credores internacionais se não taxar os pequenos poupadores. Diante do efeito negativo da medida, o país estuda não cobrar imposto das poupanças menores.
A taxação das poupanças foi anunciada como a solução para honrar os compromissos com o Banco Central Europeu (BCE) e o FMI (Fundo Monetário Internacional) de um resgate financeiro de € 10 bilhões (R$ 26 bilhões), anunciado no último sábado (16).
Yiannis Kourtoglou/AFP | ||
Cipriotas esperam para sacar em caixa eletrônico de Nicósia; bancos ficarão fechados nos próximos dias após taxa |
O anúncio do imposto provocou uma corrida aos bancos para sacar os depósitos sujeitos ao tributo. Devido à preocupação com a retirada em massa, o governo local decretou feriado bancário até quinta (21). Além dos bancos, a bolsa de valores local não opera durante esses dias.
Diante do efeito negativo nos mercados e entre os cidadãos, o governo do Chipre estuda isentar de imposto os poupadores com menos de € 20 mil (R$ 56 mil) em conta. As taxas seriam de 6,75% para depósitos entre € 20 mil e € 100 mil (R$ 260 mil) e de 9,9% acima de € 100 mil.
Inicialmente, a intenção era cobrar os 6,75% também dos pequenos poupadores. No entanto, o presidente do banco central local, Panicos Demetriades, disse que não vai ser possível chegar aos € 5,8 bilhões (R$ 15 bilhões) de economia exigidos pelos credores se não são taxados os depósitos abaixo de € 20 mil.
Questionado sobre o efeito do imposto, ele disse que os bancos cipriotas perderiam mais de 10% de todos os seus depósitos após a aplicação da taxa. A redução do tributo aos pequenos poupadores foi proposta pelos ministros das Finanças da zona do euro, em conferência na noite de segunda (18).
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que as autoridades do Chipre devem cumprir os compromissos após o resgate e pediu que o setor bancário local receba uma reestruturação apropriada por não ter chegado ao ponto necessário para a concessão da verba.
CAMINHO DIFÍCIL
A aprovação do imposto, no entanto, não deverá acontecer, mesmo com as mudanças de última hora para a votação pelo Parlamento, na tarde desta terça. O porta-voz do governo, Christos Stylianides, reconheceu que o projeto não passará pelo Legislativo.
Os governistas possuem uma maioria simples no Parlamento, com 29 das 56 cadeiras. Caso um dos aliados resolva votar contra, a medida será reprovada, o que obrigará o governo a fazer novos cortes e provocar um novo impasse interno.
A indecisão sobre o imposto e a corrida aos bancos deixou o mercado financeiro europeu apreensivo. A bolsa de valores da Grécia, um dos países mais afetados pela crise e o principal mercado do Chipre, abriu com queda de 2,1%.
Em outros mercados da Europa, também são registradas baixas. Por volta das 8h15 em Brasília, a bolsa de Paris operava com queda de 0,93% e a de Madri, com baixa de 0,86%. A situação era parecida em Frankfurt (-0,51%), Milão (-0,42%) e Londres (0,36%).
Outro grupo preocupado são os russos, que possuem mais de € 70 bilhões em depósitos no país, quase 20% de toda a poupança dos bancos do Chipre. Devido a isso, o ministro das Finanças cipriota, Mijalis Sarris, foi a Moscou para explicar ao governo russo a medida.
Na segunda (18), o primeiro-ministro Dmitri Medvedev chamou a ação de "confisco". "Não sei quem teve essa ideia, mas é com isso que se parece", disse, afirmando que poderia ajudar o Chipre pelo refinanciamento de um empréstimo concedido em 2011.
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