Parlamento do Chipre rejeita taxa sobre depósitos bancários
O Parlamento do Chipre rejeitou nesta terça-feira a proposta de uma taxa sobre os depósitos bancários no país. O imposto seria usado para custear a economia de € 5,8 bilhões (R$ 15 bilhões) exigida pelos credores para conceder um resgate. Com a decisão, as principais bolsas europeias fecharam em queda.
A ajuda do Banco Central Europeu (BCE) e da União Europeia, de € 10 bilhões (R$ 26 bilhões), foi anunciada no sábado, junto com o imposto e provocou uma corrida local aos bancos para que os poupadores não sofressem com a aplicação da taxa. O país está em feriado bancário até quinta (21).
Yorgos Karahalis/Reuters | ||
Manifestantes cipriotas pedem reprovação de imposto sobre depósitos bancários, medida para aumentar arrecadação no país |
A medida foi recusada por 36 dos 56 parlamentares do país, dentre eles 26 opositores e dez governistas. Os outros 19, que pertencem a partidos governistas, se abstiveram. A reprovação era esperada pelo presidente Nicos Anastasiades que, através de seu porta-voz, disse que o projeto não passaria pelo Legislativo.
A proposta inicial previa taxar em 6,75% todos os depósitos até € 100 mil (R$ 260 mil), enquanto os que superassem o montante deveriam ser taxados em 9,9%. A impopularidade da medida provocou o adiamento da votação no Parlamento, que estava marcada para segunda (18).
Após conferência dos ministros da zona do euro, a aplicação do imposto foi alterada, isentando os depósitos menores que € 20 mil (R$ 52 mil). Entre € 20 mil e € 100 mil, pagariam 6,75%, enquanto os superiores a € 100 mil contribuiriam com 9,9%.
Mesmo com a redução, a proposta ainda contava com a oposição do próprio governo e não garantiria a verba necessária para cumprir os compromissos com o BCE e o FMI. O presidente do banco central local, Panicos Demetriades, disse que não seria possível chegar aos € 5,8 bilhões.
Questionado sobre o efeito do imposto, ele disse que os bancos cipriotas perderiam mais de 10% de todos os seus depósitos após a aplicação da taxa. A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que o país deve cumprir seus compromissos e pediu uma reestruturação apropriada do sistema bancário.
IMPASSE
O impasse causado pela nova taxa preocupou os mercados financeiros, que ficaram apreensivos, e deverá causar mais turbulência nas bolsas de todo o mundo nos próximos dias. Nesta terça, as bolsas de Espanha e Itália, maiores economias da Europa mais afetadas pela crise, registraram queda.
Em Madri, o índice IBEX 35 fechou com baixa de 2,2%, enquanto em Milão a queda foi de 1,59 e em Paris, 1,3%. Houve perdas também em Frankfurt (-0,79%) e em Londres (-0,26%). Por volta das 16h, o índice Bovespa, de São Paulo, caía 1,23%.
A proposta da taxa surgiu após o anúncio do plano de resgate, no sábado (16), mas não se sabe de que parte veio. Representantes do BCE e do FMI dizem que a ideia do imposto foi do governo cipriota, enquanto Nicósia diz que a taxa foi sugerida pelos credores.
A retirada massiva dos recursos fez com que o Reino Unido tivesse que enviar € 1 milhão (R$ 2,6 milhões) em espécie para que os militares britânicos pudessem custear sua permanência na região, ante à falta de dinheiro nos caixas eletrônicos.
Outro grupo que se preocupou com a medida foram os russos, que possuem mais de € 70 bilhões em depósitos no país, quase 20% de toda a poupança dos bancos do Chipre. Devido a isso, o ministro das Finanças cipriota, Mijalis Sarris, foi a Moscou para explicar ao governo russo a medida.
Na segunda (18), o primeiro-ministro Dmitri Medvedev chamou a ação de "confisco". "Não sei quem teve essa ideia, mas é com isso que se parece", disse, afirmando que poderia ajudar o Chipre pelo refinanciamento de um empréstimo concedido em 2011.
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