Chipre chega a acordo para obter pacote de resgate de € 10 bilhões
Depois de horas de tensas negociações em Bruxelas, o Chipre conseguiu fechar neste domingo um acordo com seus credores internacionais para um pacote de resgate de € 10 bilhões (cerca de R$ 26 bilhões) que garante a permanência do país na zona do euro.
O acordo, aprovado pelos 17 ministros de Finanças da zona do euro, foi selado horas antes do prazo final estabelecido pelo BCE (Banco Central Europeu) para um desfecho ao impasse econômico do país.
"Temos um acordo que é do interesse do povo cipriota e da União Europeia", disse o presidente do Chipre, Nicos Anastasiadis, ao deixar o edifício do Conselho Europeu.
O novo pacto não precisará da chancela do Parlamento do Chipre, que rejeitou na semana passada um acordo que provocou a ira da população porque taxava depósitos de qualquer valor.
"É um bom acordo e é conclusivo", disse o ministro de Economia da Espanha, Luis De Guindos, ao final da reunião.
O acordo, segundo De Guindos, "acaba com todas as dúvidas e garante os depósitos inferiores a € 100 mil. Estabelece condições adequadas do ponto de vista do tratamento da economia cipriota e demonstra que quando queremos, somos capazes de um acordo".
O ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, disse que se sente "aliviado" com o acordo. Schäuble pediu "realismo" ao Chipre na sua chegada à reunião e salientou que o acordo não dependia do Eurogrupo, mas do país mediterrâneo.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress |
A partir de segunda-feira, seriam interrompidos os empréstimos de emergência aos bancos cipriotas caso um acordo não fosse fechado.
Anastasiadis passou o domingo tentando convencer os europeus sobre a eficácia do plano desenhado para levantar internamente cerca de € 6 bilhões como contrapartida ao resgate de € 10 bilhões dos credores internacionais.
Pelos termos firmados no acordo, serão usados os recursos dos correntistas com depósitos acima de € 100 mil--que não tem garantia segundo as regras da União Europeia-- do segundo maior banco do Chipre, o Laiki.
Não há ainda uma definição de quanto será a perda para esses clientes. Depósitos acima de € 100 mil do Banco de Chipre, o maior do país, sofrerão uma perda de 40% do valor total.
O acordo final deixou a salvo correntistas com depósitos inferiores a esse limite. O Banco do Chipre deverá incorporar as contas com esse perfil do Laiki, que deve ser fechado.
Medidas elaboradas na semana passada que previam penalidade para as contas de todos os correntistas --inclusive os de menor valor-- foram rejeitadas no Parlamento e geraram uma série de protestos dentro e fora do país.
A economia do Chipre é altamente dependente do setor bancário, que se notabilizou como paraíso fiscal especialmente de investidores russos.
Embora o país seja pouco representativo na economia da zona do euro --menos de 1% do total do bloco-- uma ruptura do sistema bancário e a saída do bloco poderiam desencadear uma crise de confiança com risco de contágio para países europeus fragilizados e todo o mundo.
TENSÃO
As negociações que selaram o acordo entre as partes foram marcadas por momentos de tensão, com interrupção por diversas vezes da reunião com representantes europeus. Fontes ligadas ao governo do Chipre chegaram a relatar uma ameaça de renúncia por parte do presidente.
Segundo a TV cipriota, Anastasiadis advertiu que as contrapartidas exigidas no plano de socorro à Ilha podem forçar sua demissão.
Horas antes do início das negociações, o banco central do Chipre reduziu o limite de saques em caixas eletrônicos dos dois maiores bancos da ilha para evitar uma corrida aos bancos.
Um porta-voz do segundo maior banco do país, o Banco Popular do Chipre, que havia previamente limitado saques para € 260, disse que a nova medida vale até a reabertura do banco, agendada para terça-feira, ou até a confirmação de que o financiamento emergencial do Banco Central Europeu (BCE) continuará.
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