Clérigo se torna candidato dos reformistas iranianos
Nos anos 90, Hasan Rowhani era um clérigo linha dura favorável à pena de morte para jovens manifestantes. Hoje, ele é o candidato à eleição presidencial iraniana mais favorável à abertura e à modernização.
Rowhani, que reconstruiu sua imagem ao longa da última década, tornou-se o único moderado no páreo, depois que o ex-vice-presidente reformista Mohamedreza Aref se retirou ontem da disputa pelo pleito de sexta-feira.
O afastamento de Aref foi decidido pelo maior líder reformista, o ex-presidente Mohamad Khatami (1997-2005), que preferiu cerrar fileiras moderadas em torno de Rowhani para evitar a fragmentação da oposição diante dos cinco concorrentes conservadores.
Em vez de apoiar um aliado reformista, Khatami avaliou que Rowhani era a melhor opção para mobilizar e unir o eleitorado crítico das forças dominantes no país.
O clérigo conseguiu eletrizar os comícios mais recentes, que tiveram comparecimento em massa de jovens e mulheres de classe média.
A campanha de Rowhani visa claramente atrair o entusiasmo dos milhões de iranianos que participaram do Movimento Verde contra a reeleição do conservador Mahmoud Ahmadinejad, em 2009, quando houve acusação de fraude.
O verde dos reformistas daquela época foi trocada pelo roxo, hoje cor oficial dos simpatizantes de Rowhani.
Com ar sereno e fala pausada, o mulá fala de moderação em todos os discursos.
Ele defende afrouxar restrições morais, inclusive uma interpretação menos rígida da obrigatoriedade do véu.
"Vamos abrir os cadeados que cercearam a vida das pessoas nos últimos dias", disse num recente comício.
Rowhani promete ainda, se eleito, usar a experiência diplomática acumulada quando chefiava negociações nucleares (2002-2005), numa época de relações cordiais com o Ocidente.
"[Os conservadores] trouxeram sanções ao país e se orgulham disso. Eu buscarei uma política de reconciliação e paz [...] com o mundo", afirmou no mesmo comício.
"Ele é homem certo para restaurar nossa dignidade e voltar à liberdade que tínhamos na era Khatami", disse o militante Hamid Rafee, 25.
Na semana passada, quando a elite do regime celebrava em Teerã o 24º aniversário da morte do aiatolá Ruhollah Khomeini, fundador da república islâmica, Rowhani preferiu ir ao funeral de um clérigo dissidente no interior.
HOMEM DO REGIME
Céticos lembram o passado de Rowhani, quando ele ocupou, nos anos 1980, funções militares e estratégicas reservadas a quem tem apoio dos clérigos radicais e da inteligência.
Em meio aos violentos protestos estudantis de 1999, Rowhani, então chefe da segurança nacional, disse que os culpados por "sabotar" e destruir patrimônio do Estado deveriam ser executados, segundo lembra a BBC.
Analistas especulam que uma alta votação em favor do clérigo pode gerar tensão no regime, que indica preferir a eleição de um novo presidente conservador.
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