Análise: Snowden perdeu a era dourada dos fugitivos internacionais
Talvez Edward Snowden tenha outras coisas em mente hoje, e não o 50º aniversário do grande assalto ao trem no Reino Unido, que chegará em algumas semanas.
Mas os acontecimentos de 8 agosto de 1963, que em breve serão celebrados por uma inundação de programas de TV, têm grande relevância para um homem foragido e ilustram bem como a vida mudou para os praticantes da arte da fuga em meio século.
Hong Kong, Moscou, Havana, Caracas, Quito --as etiquetas de bagagem para os destinos reais ou projetados de Snowden parecem exóticas. Paris, Acapulco, Austrália, Brasil e Canadá têm quase o mesmo ar de glamour, e foram os lugares onde três dos principais responsáveis pelo assalto ao trem --Ronald Biggs, Bruce Reynolds e Charlie Wilson-- ficaram escondidos por muito tempo antes que o acaso ou problemas de saúde os apanhassem.
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Ronald Biggs na praia, em Copacabana, com Paul Cook e Steve Jones, do Sex Pistols, ao fundo, em 1978 |
Mas a relativa facilidade com que Biggs, por exemplo, conseguiu começar vida nova na Austrália com sua família mostra como se tornou mais difícil desaparecer hoje.
Há dois problemas principais para Snowden: a internet e as notícias atualizadas 24 horas por dia. Há 50 anos, a expectativa de um homem em fuga era de que sua foto aparecesse por um ou dois dias nos jornais de seu país e depois saísse de circulação.
Agora, a imagem de Snowden foi transmitida ao mundo inteiro e está disponível para qualquer um, na China, Rússia ou América Latina.
A cobertura incansável e constante de grandes acontecimentos, tanto pelos canais de notícias de TV a cabo quanto pelos sites dos jornais, significa que a imagem dele está percorrendo o planeta a cada segundo. Os foragidos tampouco podem ter esperança de que a perseguição um dia seja abandonada.
Edward Snowden deve estar lamentando que a vida atual não seja tão simples.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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