Correa propõe consulta para acabar com jornais de papel no Equador
Em reação às críticas da imprensa à decisão de explorar petróleo em um parque florestal, o presidente do Equador, Rafael Correa, disse nesta segunda-feira (19) que proporá submeter à consulta popular a eliminação do papel nos jornais para evitar o corte indiscriminado de árvores.
O chefe de Estado deu sinal verde à exploração petroleira em uma área do Parque Yasuni, situado na Amazônia e declarado reserva mundial da biosfera, após o fracasso de um plano internacional para evitar a extração do combustível fóssil em troca de compensações econômicas.
"Agora os maiores 'ecologistas' são os jornais mercantilistas. Bom, se vamos à consulta popular, proporemos também jornais exclusivamente digitais para economizar papel e evitar o corte indiscriminado de árvores", escreveu Correa em um post no microblog Twitter.
O presidente contrariou interesses de indígenas, políticos e ambientalistas de submeter às urnas a decisão de explorar o bloco ITT, que contém 20% das reservas estimadas de petróleo do Equador (920 milhões de barris).
Juan Cevallos/AFP | ||
Rafael Correa em pronunciamento na televisão na última quinta-feira (15) |
Correa prometeu um impacto ambiental mínimo na região do Yasuni, que abriga estes depósitos, embora os setores que questionam esta decisão acreditem que o dano pode ser alto, e propõe que o tema seja decidido em uma consulta popular.
No fim de semana, Correa desafiou seus críticos a reunir as assinaturas necessárias para convocar a consulta, enquanto pequenos grupos de ativistas saíram às ruas de Quito com cartazes que diziam: "Equador, levante-se pelo Yasuni". A principal força de oposição ofereceu seu apoio à iniciativa da consulta.
"Há grupos que estão politizando o Yasuni-ITT para, com isso, 'derrotar' o governo, e manipulam sobretudo os jovens. Para ninguém isto é mais doloroso do que para mim", disse o presidente pelo Twitter.
Ao mesmo tempo, ele insistiu em que a exploração afetará menos de um milésimo do parque de um milhão de hectares e onde há décadas já operam petroleiras.
Consultada pela agência France Presse, a Associação Equatoriana de Editores de Jornais, através de seu diretor, Diego Cornejo, afirmou que ainda é muito cedo para saber se o que Correa disse nesta segunda-feira é uma proposta séria.
"No entanto, o presidente tem a faculdade de convocar as consultas que desejar e perguntar se quer eliminar a circulação de jornais de papel", sustentou Cornejo, e lembrou que Correa costuma relacionar qualquer tema com a imprensa privada, à qual tacha de opositora.
O presidente equatoriano anunciou nesta quinta-feira a decisão de pedir autorização ao Congresso, de maioria governista, para explorar os três campos do ITT, após admitir o fracasso do seu plano para obter uma compensação internacional milionária para deixar no subsolo o petróleo do Yasuni e evitar a emissão de toneladas de gás carbônico (CO2), principal gás causador do efeito estufa, responsável pelo aquecimento global.
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