Nixon e Pelé discutem futebol em áudios divulgados pelos EUA
"Você fala alguma coisa em espanhol?", pergunta o então presidente americano Richard Nixon no início da tarde de 8 de maio de 1973, enquanto começa mais uma reunião no Salão Oval da Casa Branca.
"Não, português. Mas é tudo a mesma coisa", responde um desinibido Pelé, por meio do tradutor, antes de posar para a foto com o americano.
O encontro, bastante informal, foi gravado pelo sistema de escuta instalado no gabinete presidencial a pedido do próprio Nixon.
Divulgado na quarta-feira pelo governo americano, o áudio faz parte do último bloco de 94 gravações --que somam mais de 340 horas-- de reuniões e telefonemas feitos pelo ex-presidente.
No encontro, que dura apenas dez minutos, Pelé, aos 32, e Nixon, então com 60, falam basicamente sobre futebol.
Edson Arantes do Nascimento, que já era tricampeão mundial e ainda jogava pelo Santos, explica a Nixon que o futebol "é muito diferente" do futebol americano. "Eu sei! O principal é usar a cabeça [no futebol]", responde o presidente americano.
Apesar da péssima qualidade do áudio, é possível ouvir risadas e Pelé se colocando "à disposição" de Nixon para um eventual programa de apoio ao esporte no Brasil.
O jogador diz que seu objetivo é "enviar técnicos de futebol para os Estados Unidos e os treinadores americanos de basquete para a América Latina".
"Diz ao presidente que nós sabemos que ele tem recursos, sempre [colabora] com doações, e que nós agradecemos", afirma o brasileiro ao tradutor.
Pelé, que estava acompanhado de Rosemeri Cholbi, sua mulher à época, autografou uma bola para Nixon e lhe entregou um filme sobre a prática do futebol.
WATERGATE
O período dos áudios revelados ontem vai de 9 de abril a 12 de julho de 1973. Também foram publicadas 140 mil páginas de documentos.
As 3.700 horas de gravações ficaram famosas após o escândalo do Watergate --que derrubou Nixon em 1974--, quando um assessor da Casa Branca revelou a existência dos áudios.
Também ontem foram reveladas gravações de telefonemas entre Nixon e os republicanos Ronald Reagan e George Bush pai, que anos depois seriam presidentes.
Os dois demonstram apoio após o primeiro pronunciamento de Nixon sobre o caso Watergate.
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