'Se ela me mandar para casa, vou', diz Zelaya sobre mulher candidata em Honduras
No cartão de visitas, Manuel Zelaya se apresenta como ex-presidente de Honduras e coordenador geral do partido Libre (Libertad y Refundación). Na prática, é o arquiteto da candidatura de sua mulher, Xiomara Castro, à Presidência do país, e a grande liderança da nova agremiação.
Nesta entrevista à Folha, o ex-presidente diz que o país precisa de uma nova Constituinte para superar a violência e a pobreza e que cabe à Xiomara decidir seu papel num eventual governo.
Quatro anos após golpe, Zelaya tenta eleger sua mulher em Honduras
Orlando Sierra - 15.set.2013/AFP | ||
Xiomara faz campanha ao lado do marido, em Tegucigalpa |
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Folha - A sua mulher tem chances de ganhar a Presidência de Honduras depois de pouco mais de quatro anos do golpe. Há estabilidade política suficiente para voltar ao poder?
Manuel Zelaya - A proposta de Xiomara é reconciliação, pacto social, refundar a nação, reconstrui-la. Sob esse ponto de vista, há a esperança de que Honduras possa escolher um outro caminho, de democracia.
Mas como ficaria a relação com as Forças Armadas, que participaram do golpe?
O golpe foi um fracasso. O golpe isolou o país, afundou-o em violência. Então muitas das pessoas que estiveram no golpe não querem voltar ao mesmo erro. Nesse sentido, há muita esperança em retomar o caminho democrático.
A violência se tornou o principal assunto da campanha presidencial. Por quê?
Em Honduras, não há Justiça. O sistema jurídico colapsou. Quando propus a Constituinte, era porque era preciso corrigir o que estava funcionando mal. Eles responderam com armas. Se não resolvermos o problema da Justiça, nunca resolveremos o problema do crime, da pobreza, da dívida. Primeiro, a Justiça, e a proposta de Xiomara é Justiça.
Xiomara não tem experiência política e já houve na história casos malsucedidos de mulheres de políticos eleitos. Como é conciliar a sua trajetória com a candidatura de sua mulher?
Estou de segundo ou terceiro. Ela é quem toma as decisões políticas. Ela está envolvida na política há 30 anos, me assessorou, me acompanhou, me apoiou. Tem tanta experiência quanto eu.
Qual será a sua participação num eventual o governo?
O que ela decidir. Se ela me mandar ir para casa, eu vou para casa.
Em 2009, muitos justificaram o golpe por causa da aproximação com o presidente venezuelano, Hugo Chávez. A sua morte diminuiu essa tensão?
Foi um ato de injustiça total acusar Chávez de tentar interferir em Honduras. Os mesmos golpistas aos poucos se deram conta. Agora, este governo tem boa relação com a Venezuela. Falamos de conciliação precisamente porque não guardamos rancor, ódio. O uso de Chávez foi uma ação de guerra suja. Agora que ele desapareceu fisicamente, sua presença na América Latina está viva.
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