Análise - Pior resultado em Honduras seria haver um vencedor por margem pequena
JEFFERSON FINCH
Especial para a Folha
Os analistas que acompanham a situação de Honduras vêm quase todos mantendo silêncio sobre o resultado das eleições de hoje, mas no geral concordam em que se trata do pleito mais importante em uma geração.
A ruptura constitucional de 2009, que viu o então presidente Manuel Zelaya expulso do governo e do país, causou uma fratura política nas elites hondurenhas, paralisando o Partido Liberal (PL), uma das siglas dominantes em um dos últimos sistemas políticos bipartidários que restavam na América Central.
Ainda que Zelaya tenha retornado, e as elites aceitado resolver suas diferenças por meios institucionais, não se restaurou a situação política de antes.
Apesar da falta de pesquisas confiáveis, fatores estruturais favorecem a vitória da ex-primeira-dama. O desejo de mudança é forte: de acordo com o CID-Gallup, 71% dos hondurenhos acreditam que o país está caminhando na direção errada, e o governo do PN tem índice de aprovação de apenas 26%.
Mesmo assim, será uma disputa apertada. Hernández se beneficiará dos gastos do governo Lobo nos meses precedentes à eleição, e o PN talvez tenha uma máquina eleitoral mais forte. Também existe a chance de voto estratégico por parte dos partidários do PL e PAC, temerosos de que Xiomara siga o caminho de Hugo Chávez.
Quem quer que vença não contará com mandato claro da maioria do eleitorado, e tampouco com uma maioria no Legislativo. E o país enfrenta graves desafios.
O deficit fiscal em 2013 pode passar dos 8% do PIB. Sob Lobo, a criminalidade disparou, tornando Honduras o país mais violento do hemisfério. O pior resultado seria uma vitória por margem pequena para qualquer dos candidatos, em uma eleição contestada na qual o derrotado venha depois a tentar solapar o novo governo.
Caso Xiomara vença hoje como se espera, é provável que seu governo surpreenda os céticos e os investidores ao se provar mais pragmático do que a retórica de campanha indicaria --em grande parte, graças às lições aprendidas por Zelaya. É provável que ela seja mais Lula do que Chávez.
O resultado real pode ser o reforço das instituições hondurenhas.
JEFFERSON FINCH é analista político do Eurasia Group.
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