Parlamento ucraniano promete acordo para mudar Constituição
Os partidos do Parlamento da Ucrânia fizeram um acordo nesta quinta-feira para tentar elaborar um projeto de lei sobre emendas constitucionais que poderão ser submetidas à votação já na próxima semana, disse Volodimir Ribak, porta-voz do Partido das Regiões, o mesmo do presidente Viktor Yanukovich.
Líderes da oposição, com apoio dos manifestantes nas ruas, querem o retorno da constituição de 2004 que iria transferir grande parte dos poderes do presidente para o parlamento –proposta então rejeitada pelo presidente Yanucovich e seus apoiadores, maioria no legislativo.
Riback disse que os líderes dos partidos fariam uma reunião com ele e representantes do presidente para produzir um projeto de lei nos próximos dias.
"Na próxima semana, devemos tomar uma decisão, talvez na terça ou quarta-feira, para considerar o projeto de lei", disse aos legisladores.
A fidelidade partidária entre os 450 membros do Parlamento unicameral não é sempre respeitado o que leva a dúvidas sobre a possibilidade de um consenso ou que a oposição possa reunir uma maioria para conseguir aprovar as mudanças que deseja.
Na terça-feira (4), a oposição já havia proposto no Parlamento a volta da Constituição de 2004, mas não houve acordo e nem votação. O Parlamento Europeu aprovou nesta quinta uma resolução que sugere que a Ucrânia retorne ao texto de 2004, como uma possível via para resolver a atual crise do país.
Ainda na terça, Yanukovich, em reunião com o opositor Vitali Klitschko, rejeitou a proposta de mudar a Constituição de maneira rápida, argumentando que seria um passo anticonstitucional.
Cerca de 2 mil manifestantes marcharam em direção ao Parlamento nesta quinta-feira com cartazes escritos "nós estamos cansados de esperar" e se disseram preparados para voltar a enfrentar a polícia se o Parlamento não agir.
Yanukovich deverá nomear nos próximos dias um novo primeiro-ministro para substituir Mykola Azarov que deixou o governo, na semana passada, após o fracasso em conter as ondas de manifestações que atingiram Kiev e a invasão de prédios públicos pelo país.
Líderes opositores e manifestantes querem a saída de Yanukovich que acusam de ser ligado a interesses empresariais corruptos e estar sob pressão da vizinha Rússia.
Os protestos começaram em novembro, após o presidente rejeitar um acordo com a União Europeia em troca de ajuda financeira de Moscou. Os confrontos na Ucrânia dividiram as potências com a UE e os EUA, do lado da oposição, e a Rússia, apoiando Yanukovich.
APOIO AMERICANO
Nesta quinta, Yanukovich expressou seu compromisso com a reforma constitucional ao se reunir com a secretária de Estado adjunta dos Estados Unidos para Assuntos Europeus, Victoria Nuland.
"O presidente expressou que é partidário de uma pronta reforma constitucional na qual sejam respeitados todos os procedimentos de elaboração de uma nova Carta Magna", informou o escritório de imprensa da presidência ucraniana.
O presidente também prometeu à secretária americana a pronta libertação dos detidos nos protestos antigovernamentais que explodiram em 21 de novembro. O projeto de anistia aprovado pelos seus apoiadores no Parlamento prevê a libertação somente depois que manifestantes desocuparem prédios públicos tomados nos protestos.
Um importante assessor do Kremlin acusou nesta quinta-feira os Estados Unidos de armarem os "rebeldes" ucranianos e, ao pedir que o governo em Kiev acabe com o que foi chamado de uma tentativa de golpe, alertou que poderia haver uma intervenção para manter a segurança no país vizinho.
Sergei Glazyev, assessor do presidente Vladimir Putin e com responsabilidade nas relações com a Ucrânia, afirmou a um jornal que a "interferência" norte-americana descumpria um tratado de 1994, segundo o qual Washington e Moscou garantiriam juntos a segurança e a soberania da Ucrânia depois que Kiev se desfez do arsenal nuclear da era soviética.
ECONOMIA
O primeiro-ministro em exercício da Ucrânia, Serhiy Arbuzov, disse, na quarta- feira (5), que o confronto nas ruas causou uma queda de 10% na moeda ucraniana.
Um dólar passou a valer menos que 9 hrivnas pela primeira vez em cinco anos.
"A instabilidade política coloca pressão sobre o mercado de câmbio. Há uma tensão, apesar da falta de razões econômicas para isso", disse ele, ressaltando o superávit no balanço de pagamentos –especialmente depois do resgate russo de 3 bilhões de dólares em dezembro.
O banco central da Ucrânia interveio no mercado de câmbio pelo segundo dia na quarta, oferecendo-se para vender dólares por 8,7 hrivnas, contra 8,6 na terça-feira. Na quarta, a hrivna valia entre 8,75 e 8,80 por dólar.
A economia ucraniana está sob pressão dos dois lados.
De acordo com o porta-voz, o presidente Putin não irá voltar atrás em seu compromisso de conceder um auxílio de 15 bilhões de dólares para a Ucrânia e de reduzir em 30% o preço do gás russo entregue ao seu vizinho, desde que Kiev respeite seus compromissos com Moscou.
Já o embaixador dos EUA na Ucrânia também alertou que sanções econômicas seriam impostas pelos Estados Unidos, caso Yanukovich tentasse retirar os acampamentos de manifestantes no centro de Kiev à força.
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