Monica Lewinsky diz que se arrepende de 'affair' com Clinton
"É hora de queimar a boina e enterrar o vestido azul", decreta Monica Lewisnky, a ex-estagiária da Casa Branca com quem, no fim dos anos 90, o então presidente Bill Clinton assumiu ter mantido uma "relação inapropriada".
Em depoimento escrito por ela à revista "Vanity Fair", na edição a ser publicada na próxima quinta-feira, Lewinsky se refere ao vestido azul com uma mancha de sêmen de Clinton que ela entregou à Justiça em 1998, e à boina em que usava em uma das fotos em que aparece do lado do ex-presidente.
Aos 40, Lewinsky decidiu quebrar o silêncio de dez anos ao dizer que se "arrepende profundamente" do envolvimento com o ex-chefe. "Eu me arrependo profundamente do que aconteceu entre mim e o presidente Clinton", escreveu.
Segundo ela, a razão de vir a público agora é sua determinação de dar um final diferente para a sua história. "Decidi, finalmente, levantar a cabeça para que eu possa retomar a minha narrativa e dar um fim ao meu passado. O que isso vai me custar, logo vou descobrir." Para a ex-estagiária, outras pessoas que foram humilhadas publicamente talvez precisem de sua ajuda.
Frank Leonhardt/AFP | ||
A ex-estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky, apresenta seu livro, em Munique, em março de 1999 |
No texto, Lewinsky conta que, nos dois anos que se seguiram ao escândalo, pensou, muitas vezes, em se suicidar, sem nunca efetivamente tentar. "Ela [sua mãe] ficava ao lado da minha cama, toda noite, porque eu tinha pensamentos suicidas. A vergonha, o desprezo, e o medo que tinham sido jogados contra a filha dela a deixaram com medo de que eu tirasse a minha vida -um medo de que eu fosse literalmente humilhada até a morte."
Para a ex-estagiária, foi leve a reação de Hillary -hoje o principal nome democrata para a corrida à Casa Branca em 2016-, que à amiga e confidente Diane Blair chamou Lewinsky de "louca narcisista". A declaração estava no diário da ex-assessora do casal tornado público recentemente.
"A primeira coisa que pensei foi: se essa é a pior coisa que ela falou [sobre mim], eu tenho muita sorte. Pelo que li, a sra. Clinton teria confidenciado a Blair que, em parte, ela se culpava pelo caso do marido (por estar emocionalmente negligente) e parecia que o perdoava", escreve Lewinsky. "Embora ela considerasse que Bill manteve um 'comportamento duramente inapropriado', o caso foi, no entanto, 'consensual (não uma relação de poder)'."
Lewinsky, inclusive, fez questão de reforçar, no texto, que toda a relação com Clinton foi consentida. "É claro: meu chefe se aproveitou de mim, mas eu sempre vou sustentar este ponto: foi uma relação consensual. Qualquer 'abuso' veio na sequência, quando me tornei um bode expiatório, a fim de proteger a sua posição poderosa", diz.
MARCADA
Segundo ela, o governo Clinton, os agentes políticos de ambos os partidos e a mídia a "marcaram". "E essa marca fica, em parte porque está imbuída de poder."
A ex-estagiária diz ainda ser reconhecida na rua a todo instante e conta ter tido problema para arranjar emprego -seja em Londres, Los Angeles, Nova York ou Portland (Oregon)-, porque ela nunca era "se enquadrava" à vaga. "Ou, em alguns casos, eu era a pessoa certa pelas razões erradas", diz, contando que muitos queriam se aproveitar sua imagem em eventos com a imprensa.
Sobre a colunista do "New York Times" Maureen Dowd, que venceu o Pulitzer em 1999 pela série de reportagens sobre o caso, Lewinsky diz que costumava a chamar de "Moremean Dowdy" (algo como a "mais maldosa"). "Mas hoje eu a convidaria para beber um drink."
Lewinsky trabalhou como estagiária na Casa Branca entre 1995 e 1996, e, segundo depoimento dela em 1998, eles se encontraram, pelo menos dez vezes, a maioria delas no Salão Oval. Ela admitiu ter feito sexo oral com ele em seu escritório. Clinton, contudo, negou ter tido "relações sexuais" com ela.
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