Dominadas por jovens, manifestações de Hong Kong têm clima festivo
"Não é festa, é protesto", avisa uma faixa pendurada num viaduto no centro dos protestos em Hong Kong. Basta caminhar alguns metros no meio dos manifestantes, porém, para perceber que é um pouco dos dois.
Depois dos confrontos do último domingo (28), quando usou gás lacrimogêneo e spray de pimenta tentando dissipar o protesto, sem sucesso, a polícia recuou.
As ruas em torno da sede do governo de Hong Kong se transformaram em um grande acampamento. O clima é uma mistura da praça Tahrir, o epicentro da revolução que derrubou o ditador do Egito, Hosni Mubarak, em 2011, com colonia de férias, já que muitos dos manifestantes são adolescentes.
"Minha mãe apoia os protestos. Só pediu que eu estivesse em casa até a meia-noite", conta Charlene, 15, cercada de colegas de turma.
Uma divisão de tarefas espontânea surgiu entre os jovens, num clima de intensa solidariedade que contagiou os mais velhos.
Alguns se juntaram para limpar as ruas, outros circulavam entre os manifestantes distribuindo água e biscoitos, além das faixas amarelas que se tornaram símbolo dos protestos.
MEMÓRIA
Embora os articuladores do movimento original sejam professores cinquentões, o crescimento das manifestações os deixou fora da linha de frente.
Os donos da festa são os jovens. A grande maioria deles tem menos de 25 anos.
Portanto, não eram nascidos em 1989, quando o governo chinês calou com extrema violência um protesto estudantil pró-democracia em Pequim, no que ficou conhecido como o "Massacre da Praça da Paz Celestial".
Ainda assim, o episódio está gravado na memória coletiva dos jovens que protestam 25 anos depois. Alguns não escondem que temem uma repetição do massacre.
A maioria, porém, acha que os tempos agora são outros. "Eles não fariam o mesmo aqui", diz o manifestante Lam, 23, recém-formado em administração de empresas. "Com tanta tecnologia de comunicação, agora o mundo está olhando".
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis