Internautas criam campanha "Eu não sou Charlie" na rede
Enquanto se noticiava que os tuítes marcados com #JeSuisCharlie ("eu sou Charlie") faziam história entre os mais usados na rede social Twitter, chegando a 6.500 menções por minuto, outra tendência ia contra essa corrente: #JeNeSuisPasCharlie.
Traduzido como "eu não sou Charlie", a "hashtag" –como se chamam esses marcadores em mensagens do Twitter– era a bandeira daqueles que não concordavam com a defesa incondicional aos desenhistas do "Charlie Hebdo", ou que afirmavam que o foco deveria ser outro.
O americano muçulmano Ahmad Hussain, de origem árabe, preferia marcar seus tuítes com #JeSuisAhmed. ("eu sou Ahmed").
Ou seja, em vez de "ser" os cartunistas polêmicos, ele se dizia representado pelo policial Ahmed Merabet, também morto no ataque terrorista de quarta-feira (7).
"Além disso, os muçulmanos são acusados pelo ataque ao 'Charlie Hebdo', então nos sentimos de alguma maneira vítimas também", disse Hussain à Folha.
Assad Rashid, de pai iraniano e mãe paquistanesa, tuitava durante o dia usando a "hashtag" #JeSuisAhmed "para mostrar que há muçulmanos que estão integrados à sociedade e que rejeitam a violência do extremismo".
Para Rashid, era importante enfatizar que havia uma vítima muçulmana no atentado. Assim, de acordo com ele, ficaria claro que "os terroristas estavam assassinando a ideia de liberdade, e não se baseavam em uma religião".
Outros usuários tuitavam com #JeSuisRaif, em referência ao blogueiro saudita Raif Badawi, condenado a açoitamento depois de ter sido acusado pelas autoridades do país de ter ofendido o islã.
ÓDIO
Procurado pela reportagem no final do dia, após o ataque ao mercado kosher, o muçulmano Hemmy Ismail, 33, se dizia chocado com os acontecimentos. De família tunisiana, afirmava que "o que fizeram é prova de que os terroristas usam a religião para enviar uma mensagem de ódio".
"São pessoas frustradas que pensam que conhecem a verdade e que as outras pessoas não podem pensar diferente. Eu sou muçulmano, mas acredito no secularismo, então estou também na mira desses terroristas."
Sobre os ataques a mesquitas na França nos últimos dias, Ismail afirma que "as pessoas estão furiosas" e que buscam um culpado para o que estão sentindo.
A associação entre o islã e o terrorismo, para ele, será rompida assim que as autoridades religiosas e políticas enviem a mensagem de que o que ocorreu em Paris "foi feito em nome da desumanidade, não do islã".
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis