Turismo em Israel tenta se recuperar após guerra
O turismo, segmento mais sensível ao clima de instabilidade geopolítica de Israel, está tendo de criar estratégias para lidar com os impactos da guerra em Gaza de 2014 e da onda de atentados terroristas palestinos no país.
O número de visitantes fechou 2014 com redução de 7% em relação a 2013 –foram 3,26 milhões de ingressos.
A ofensiva contra o território palestino, em julho e agosto do ano passado, deixou 2.200 mortos, a maioria de civis. O objetivo era destruir a infraestrutura do grupo islâmico Hamas, que usa a região como base para lançar foguetes em Israel.
Jim Hollander - 28.dez.2014/EFE | ||
Soldado israelense faz proteção de grupo de turistas que se banham no rio Jordão |
Desde o final da guerra, uma série de atentados cometidos por palestinos que moram em Israel –incluindo atropelamentos– tem levado intranquilidade à população.
O setor turístico tem impacto importante para a economia local, pois representa 6% do PIB e gera empregos para 100 mil trabalhadores.
Segundo o Ministério do Turismo, a contribuição do segmento para a economia israelense no ano passado foi de cerca de US$ 10,5 bilhões.
O país não foi poupado da desaceleração econômica global, e deve crescer apenas 2,5% em 2015.
Preocupado, o governo aprovou no final do ano um pacote de US$ 130 milhões de ajuda ao setor.
Além disso, estão sendo oferecidos treinamentos gratuitos para guias de turismo e se oferece entrada franca em diversas atrações. Em alguns pontos turísticos, a segurança foi reforçada.
"Continuaremos a sentir os efeitos da guerra em janeiro e fevereiro, meses em que deveríamos receber os turistas que planejaram suas viagens em julho, agosto e setembro", afirmou à Folha Oni Amiel, 59, diretor de uma das maiores operadoras israelenses.
O setor também deverá sentir o impacto da crise econômica na Rússia, que ocupa o segundo lugar no ranking de visitantes.
Prejuízos ocasionados pela instabilidade geopolítica não são novidade para os trabalhadores e as empresas do setor turístico israelense.
"Nunca dá para saber quando virá uma nova onda de más notícias, e a região sempre reage rapidamente a cada novo acontecimento e resolução. Quem trabalha no segmento do turismo participa dessa incógnita", afirma Jayme Fucs Bar, 56, carioca que vive em Israel desde 1982 e há seis anos trabalha como guia. Praticamente 100% de seus clientes cancelaram reservas feitas para os meses de junho a setembro.
SEGMENTAÇÃO
A mesma realidade foi vivida pelo guia paulista Marcio Kramer, 56. "Trabalhei bastante até a guerra. Daí, na sequência, começaram os atentados. O turismo realmente se ressentiu, o que é compreensível", disse.
"Em novembro começamos a sentir a retomada do setor", complementou.
Segundo Oni Amiel, são necessários de quatro a cinco meses até a normalização do fluxo de turistas. "Esse é um prazo considerado curto –anteriormente, se levava de 12 a 18 meses", afirmou.
A criatividade tem sido a saída procurada pelo segmento. "Em lugar de tentarmos corrigir o impacto, trabalhamos na divulgação de nossos pontos positivos", disse a diretora da administração de turismo da Prefeitura de Tel Aviv, Hila Oren.
"Apesar do que se vê na mídia, a vida em Israel segue regularmente e é impossível explicar isso para o público externo", declarou. "Estamos trabalhando para desvincular Tel Aviv, uma cidade global do Mediterrâneo, do contexto de Israel."
A segmentação tem sido uma alternativa. Há pacotes, por exemplo, para turistas exclusivamente interessados em visitas a vinícolas, participação em maratonas e visitas a empresas start-ups ou especializadas em tecnologias agrícolas.
O turismo gay também está em alta –Tel Aviv tem sido apontada em pesquisas como um dos melhores destinos GLS do mundo, ao lado de Barcelona e Miami.
PONTOS
Para o governo israelense, a imagem do país hoje não corresponde à realidade.
"Nenhum lugar está imune a uma 'nuvem', sejam elas greves no aeroporto, transtornos climáticos ou terrorismo. Israel está suscetível a eles tanto quanto EUA ou Europa", afirmou à Folha o diretor-geral do Ministério do Turismo de Israel, Amir Halevi.
A tradutora brasileira Arina Alba, 35, que está em Israel há sete anos, diz que mudou sua rotina desde a onda de atentados. "Passei a caminhar pelas ruas olhando para os lados", disse ela, que está fazendo as malas para voltar a viver no Brasil.
"Para mim, Israel perdeu pontos nesses últimos meses. Esse é um tipo de violência ao qual não estou acostumada", declarou.
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