Venezuela barra visita de ex-presidentes a opositor preso
A polícia da Venezuela impediu neste domingo os ex-presidentes Andrés Pastrana, da Colômbia, e Sebastián Piñera, do Chile, de visitar numa cadeia de Caracas o líder opositor Leopoldo López.
López está preso há dez meses, acusado de orquestrar protestos antigoverno que deixaram 43 mortos em 2014.
A oposição o considera preso político e busca dar visibilidade internacional ao caso para pressionar o presidente Nicolás Maduro.
Jorge Silva/Reuters | ||
Pastrana (esq.), Lilian Tintori (centro) e Piñera (dir.) são impedidos de entrar na prisão de Ramo Verde |
Pastrana e Piñera chegaram às 10h30 ao presídio de Ramo Verde, na região metropolitana da capital, para aproveitar o dia semanal de visitas. Estavam acompanhados pelos pais, pela mulher de López e pela deputada cassada Maria Corina Machado.
O ex-presidente mexicano Felipe Calderón, que também deve visitar a Venezuela em apoio à oposição, não chegara a tempo de ir ao presídio.
No cordão de isolamento policial em frente ao presídio, Pastrana e Piñera foram informados por um coronel que, devido a ordens do Executivo, não poderiam passar. Não foi dada justificativa.
Pastrana se dirigiu aos jornalistas na volta: "Alguém tem o telefone de Miraflores [palácio presidencial]?". Piñera contatou a Embaixada do Chile, que ligou ao vice da Venezuela, Jorge Arreaza, pedindo permissão para entrar no presídio –Maduro está no exterior. Arreaza negou.
"Negar o direito do preso a visitas viola direitos humanos e mostra a situação que a Venezuela vive", disse Pastrana.
Simpatizantes de López alegam que a lei permite a qualquer preso receber visita, desde que o visitante apresente sua identidade. Não está claro, porém, o que diz o regulamento de Ramo Verde, prisão com regras especiais por se tratar de zona militar.
No momento em que a comitiva opositora se retirava do local, a mulher de López, Lilian Tintori, pediu a renúncia de Maduro. Tintori o acusou de ser ditatorial e de ter causado a grave crise no país, com enormes filas no comércio e crescente escassez de produtos básicos e remédios.
Em declaração surpreendente, um agente de inteligência encarregado de escoltar a comitiva confidenciou à Folha concordar com Tintori. "Sim, hoje [a saída de Maduro] é a única opção", murmurou, ao ser questionado.
Na volta a Caracas, o comboio de Pastrana e Piñera foi vaiado por militantes governistas, que levavam cartazes chamando-os de "fascistas".
Eles ecoavam palavras de Maduro, que, dias antes da visita, classificou os ex-presidentes de golpistas. Piñera respondeu ao colega: "Se quer respeito, respeite".
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