Crise de vizinhos deve afetar novo presidente do Uruguai
Tabaré Vázquez, 75, chega ao segundo mandato como presidente do Uruguai neste domingo (1º) diante de dois desafios: substituir o popular José "Pepe" Mujica e manejar a economia em um momento em que patinam seus principais parceiros, Brasil e Argentina.
Vázquez governou o país entre 2005 e 2010, quando passou a faixa presidencial ao simpático Mujica. Nesse período, o Uruguai cresceu em média 6,7% ao ano. A boa performance ocorreu com ajuda da valorização das matérias-primas, na qual o país e os vizinhos, como o Brasil, surfaram por anos.
Desde 2012, porém, o crescimento se moderou e agora corre risco com a fraqueza da economia no Brasil e a recessão na Argentina.
Xinhua/Nicolás Celaya | ||
Tabaré Vázquez, que assume hoje Presidência do Uruguai, em evento de despedida de Mujica na sexta |
"Tabaré chega ao poder com o mesmo apoio político com que chegou Mujica, mas não com a mesma situação econômica. Isso pode fazer com que as pessoas fiquem mais impacientes", afirma Mariana Pomies, diretora da consultoria Cifra.
O presidente é do mesmo grupo político de Mujica, a Frente Ampla. Chegou ao poder no segundo turno, vencendo o conservador Luis Lacalle Pou com 53% dos votos.
Silvia Medina, 65, estava na praça Independência na sexta (27) para se despedir de Mujica. Ela descreve Tabaré como "estudioso e um bom gestor". "Ele fez muito pelo país. Tinha muita pobreza quando ele assumiu", diz ela, que mora na periferia de Montevidéu.
O presidente, que virou oncologista para estudar a doença que matou os pais e o irmão, militou no movimento guerrilheiro Tupamaro, assim como Mujica.
Para os uruguaios, porém, os dois líderes são completamente diferentes.
Tabaré mora no bairro nobre de Prado, em Montevidéu, e exibe imagem distinta da do antecessor, que se notabilizou como o "presidente mais pobre do mundo" na imprensa estrangeira.
Para Oscar Bottinelli, da consultoria Factum, outra diferença é que Tabaré não deverá ser tão próximo dos vizinhos latino-americanos como foi Mujica.
"Ele [Tabaré] deverá ter uma preocupação maior do que teve com a região em seu primeiro mandato, mas evidentemente menos do que Mujica", prevê ele.
CONSERVADOR
Entre os jovens, Tabaré é considerado mais conservador que Pepe. Quando presidente, rejeitou a lei que autorizava o aborto e demonstrou não ter simpatia pela regulação da maconha.
Também já declarou que vai avaliar a política de acolhimento de refugiados sírios iniciada por Mujica em 2014.
Por esse convênio, segundo a Acnur (braço das Nações Unidas para o tema), o Uruguai recebeu 42 pessoas no ano passado. As demais 72 pessoas previstas, que deveriam chegar em fevereiro, vão ter que esperar.
"Quando ele vetou a lei do aborto, delimitou sua distância dos demais grupos de esquerda", diz a estudante de ciências sociais Maria Pires, 19. "A vantagem é que já o conhecemos, e ele terá uma segunda chance de se conciliar com esses temas."
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