Turquia vota neste domingo sob temores de avanço do autoritarismo
Às vésperas das eleições parlamentares que, neste domingo (7), podem abrir o caminho para uma mudança no sistema de governo na Turquia, o presidente Recep Tayyip Erdogan usou um comício para rebater críticas a seu crescente autoritarismo.
"Eles dizem 'ditador'. Quem é ditador? Há 90 partidos [no país], 20 deles estão concorrendo nesta eleição. Que tipo de ditador é esse a quem se pode xingar nos jornais e nas TVs?", afirmou o presidente, na capital, Ancara, nesta sexta (5).
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Casos de jornalistas, ativistas, estudantes e até uma miss processados por insultá-lo em redes sociais, contudo, têm sido frequentes.
Apesar de seu nome não constar nas cédulas eleitorais, Erdogan, que foi primeiro-ministro do país entre 2003 e 2014, é o principal personagem da votação de domingo e, sob críticas, percorreu o país em campanha.
É ele que lidera os esforços pelo projeto de mudança do sistema parlamentarista para o presidencialista "ao estilo turco", mantendo um congresso unicameral. Pelo cenário atual, o posto de Erdogan é essencialmente simbólico –as decisões importantes devem ficar a cargo do premiê, Ahmet Davutoglu.
Para mudar o sistema, seu partido, o AK (Justiça e Desenvolvimento), precisa conseguir 2/3 dos assentos nestas eleições para aprovar a emenda à Constituição.
Sertac Kayar/Ruters | ||
Homem ferido é carregado após explosão durante comício do partido pró-curdo HD em Diyarbakir |
Pesquisas mostram, contudo, que uma vitória por ampla vantagem é menos provável após o crescimento do apoio ao pró-curdo HD, fundado em 2012. Em levantamento do Instituto Sonar, no fim de maio, o AK aparece com 41% das intenções de voto. O HD, com 10,4%
Pesam contra Erdogan e seu partido, ainda, a desconfiança da população sobre sua tentativa de concentrar poderes e "islamizar" a Turquia e o fraco desempenho econômico do país –desemprego de 11,5%, crescimento de 2,9% em 2014 (em 2011, a economia crescera 8,8%).
EXPLOSÕES
Em um comício do HD em Diyarbakir, a maior cidade do sudeste turco, duas explosões mataram ao menos duas pessoas e feriram mais de cem.
Erdogan declarou que os aparentes atentados são uma "provocação" feita para "minar a democracia e a atmosfera de paz e fraternidade" antes das eleições.
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