Cuba está pronta para 'novo laço' com EUA, diz Raúl Castro
A cinco dias da data prevista para a reabertura das embaixadas de Cuba em Washington e dos EUA em Havana, o ditador cubano, Raúl Castro, afirmou nesta quarta-feira (15) que seu governo está pronto para romper com "toda nossa história comum" e "fundar um novo tipo de laço entre os Estados", em que possam "cooperar e coexistir civilizadamente".
O discurso de Raúl ocorreu no fechamento da sessão da Assembleia Nacional. Só há duas reuniões dos parlamentares por ano, normalmente fechadas ao público e sem transmissão televisiva.
A desta quarta, porém, registrou um fato inédito: o Parlamento descreveu os acontecimentos no plenário por meio de mensagens via Twitter e Facebook.
Durante a sessão, o site governista Cubadebate publicou uma foto de um operário retirando a placa que identificava a Seção de Interesses de Cuba em Washington, para substituí-la nos próximos dias por outra que denomine o prédio como a embaixada cubana.
Desde que assumiu o poder, em 2008, em substituição a seu irmão mais velho, Fidel, Raúl tem se mostrado mais receptivo ao diálogo com os americanos.
Apesar do tom amistoso com os EUA, Raúl voltou a cobrar o fim do embargo imposto à ilha. "Não é possível conceber, enquanto se mantiver o bloqueio, relações normais entre Cuba e EUA."
O ditador disse esperar que o presidente americano, Barack Obama, "continue a usar sua autoridade executiva para desmantelar essa política". Obama flexibilizou parte das restrições impostas sobre Havana, mas precisa do aval do Congresso, controlado pela oposição republicana, para suspender o embargo de forma integral.
Para a normalização dos vínculos, afirmou Raúl, também será necessário devolver a Cuba o território ocupado pela base naval de Guantánamo e eliminar "programas dirigidos a promover a subversão e a instabilidade internas". "Mudar tudo o que deve ser mudado é assunto soberano e exclusivo dos cubanos", disse Raúl.
O restabelecimento das relações diplomáticas interromperá 54 anos sem embaixadores nos dois países.
As conversas foram retomadas secretamente em meados de 2013, e o anúncio histórico de que Cuba e EUA voltaram a dialogar foi feito por Obama, em 17 de dezembro do ano passado, surpreendendo a comunidade internacional.
Desde então, alguns avanços já foram feitos. Em maio, os EUA autorizaram quatro companhias de balsas a fazerem o transporte de passageiros entre Miami, Fort Lauderdale e Orlando para cidades cubanas.
PAPA E BRASIL
Em seu discurso, Raúl falou também que "desperta admiração mundial a defesa do papa Francisco pela erradicação da pobreza".
O pontífice, que foi um dos mediadores do processo de reaproximação entre Havana e Washington, visitará Cuba entre 19 e 22 de setembro, quando terá um encontro com Raúl.
Francisco será o terceiro papa a ir ao país nos últimos 17 anos –João Paulo 2º esteve na ilha em janeiro de 1998, e Bento 16 fez sua visita em março de 2012.
Raúl ainda enviou saudações à presidente Dilma Rousseff e "ao povo brasileiro, que defende importantes avanços sociais e políticas de integração regional diante de tentativas de revertê-los".
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