Egito condena três jornalistas de emissora de TV a três anos de prisão
Três jornalistas da emissora de TV Al Jazeera foram condenados no Egito a três anos de prisão sob acusação de divulgar notícias falsas e de trabalhar sem possuir permissão.
O veredito foi dado a Mohamed Fahmy, naturalizado canadense que desistiu da cidadania egípcia; Baher Mohamed, egípcio; e Peter Greste, um australiano que foi deportado em fevereiro.
O juiz Hassan Farid disse que os acusados, chamados pela imprensa local de "Célula Marriot" porque trabalhavam de um hotel desta rede, "não são jornalistas e nem membros do sindicato da imprensa" e transmitiram informações usando equipamento sem licença.
Khaled Elfiqi/Efe | ||
O jornalista Mohamed Fahmy (esq.), a advogada Amal Clooney e o embaixador Troy Lulashnyk |
Inicialmente, os três haviam sido sentenciados a cumprir entre sete e dez anos de prisão sob acusações como espalhar mentiras para ajudar uma organização terrorista, em referência à Irmandade Muçulmana, retirada do poder pelos militares há dois anos.
Os três negaram todas as acusações, às quais chamaram de absurdas, e disseram que suas prisões são parte de uma ampla destruição da liberdade de expressão desde que o Exército depôs o presidente Mohamed Mursi, em 2013.
"Palavras realmente não fazem justiça", disse Greste, um dos condenados. "Receber três anos de prisão é ultrajante. É apenas devastador para mim."
A mulher de Fahmi, Marwua Fahmi,espera que o presidente do país, Abdul Fatah al-Sisi, conceda indulto a seu marido. "Não há igualdade, esperamos que o presidente o indulte. Assim como fizeram com Greste. Eles lhe pediram que renunciasse à nacionalidade egípcia para enviá-lo ao Canadá, mas depois não cumpriram seu compromisso", acrescentou, visivelmente emocionada.
Na sessão também esteve presente a advogada defensora dos direitos humanos Amal Clooney, esposa do ator americano George Clooney, e que defende Fahmi no processo.
A emissora Al Jazeera, com sede no Catar, condenou a decisão em comunicado de seu diretor geral, Mustafa Sawaq. "Este julgamento é um novo ataque contra a liberdade de imprensa, e um dia negro para a história do judiciário egípcio", disse.
No último dia 16, Al-Sisi sancionou uma nova e controversa lei antiterrorismo, que aumenta os poderes de vigilância do governo e prevê punição para jornalistas que publicarem dados sobre ataques que não coincidirem com informações oficiais.
O governo de Al-Sisi já é considerado por ativistas de direitos humanos o mais repressor da história recente do Egito -superando, inclusive, o regime de Hosni Mubarak (1981-2011).
Os últimos dados oficiais, divulgados no segundo semestre de 2014, contabilizavam 22 mil prisões de opositores desde o golpe, liderado por Sisi, que derrubou Mohammed Mursi, em julho de 2013.
Ativistas, no entanto, estimam que mais de 41 mil tenham sido detidos ou respondem a acusações políticas.
Pelo menos 22 jornalistas estão detidos, segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ)
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