Ao ver corpo de garoto na praia, meu sangue congelou, diz fotógrafa
"Meu sangue realmente congelou."
A fotógrafa Nilüfer Demir conta que essa foi sua primeira reação ao ver o corpo do garoto Aylan Kurdi, 3, estirado numa praia na região de Bodrum, na Turquia. Ele foi um dos 12 refugiados sírios mortos após o naufrágio de uma embarcação precária que tentava chegar à ilha grega de Kos.
As imagens da cena, registradas por Demir nesta quarta-feira (2), espalharam-se nas redes sociais com a hashtag #KiyiyaVuranInsanlik (algo como "a humanidade levada pelas ondas", em turco).
"Eu estava trabalhando na praia, fotografando um grupo de migrantes paquistaneses que tentavam atravessar clandestinamente [o Mediterrâneo]. Foi quando reparamos em (...) corpos de crianças. Inicialmente, ficamos surpresos e muito tristes", relatou Demir à agência de notícias turca Dogan, para a qual trabalha. "Quando vi o corpo de Aylan, meu sangue realmente congelou."
Reprodução/hüriyettTV | ||
A fotógrafa Nilüfer Demir relata o que sentiu ao registrar imagem de garoto refugiado encontrado morto |
"Naquele momento, não havia nada que eu pudesse fazer. Seu corpo sem vida estava deitado naquele lugar, com sua camiseta vermelha, sua bermuda azul rasgada. (...) Cem metros adiante, seu irmão [mais velho] Galip estava estirado no chão."
"Eu me aproximei [e] vi que eles não tinham coletes salva-vidas nem braçadeiras, nada que pudesse ajudá-los a flutuar. Aquela imagem demonstrava como esse incidente era realmente dramático."
O episódio avivou a comoção mundial em torno do fluxo sem precedentes de refugiados e migrantes que tentam chegar à Europa. Segundo dados da OIM (Organização Internacional de Migração), pelo menos 2.600 pessoas morreram desde o início de 2015 tentando chegar à Europa atravessando o Mediterrâneo.
"Nós precisávamos cumprir nossa missão. Não havia mais nada que pudéssemos fazer por eles. (...) A única coisa que eu podia fazer com seu corpo caído sobre o chão era fazer seu grito ser ouvido. Eu acreditei que poderia fazer isso apenas apertando o botão da câmera, e tirei a foto daquele momento."
"Desde 2003, eu fotografei e testemunhei vários incidentes na região que envolviam migrantes, suas mortes e seus dramas. Eu espero que as coisas mudem daqui para frente."
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis