Partido conservador do presidente Erdogan vence legislativas na Turquia
Osman Orsal/Reuters | ||
Pessoas seguram bandeiras e um retrato de Erdogan em frente à sede do Partido AK, em Istambul |
O AKP, partido islâmico do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, venceu as eleições legislativas antecipadas deste domingo (1º) e voltará a ter a maioria das cadeiras no Parlamento.
Com 99,1% das urnas apuradas até a conclusão desta edição, o governista Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) conseguiu 49,4% dos votos e 316 cadeiras de um total de 550, informou a agência estatal Anadolu.
O número supõe uma revanche de Erdogan, 61, cujo partido perdeu nas eleições de 7 de junho a maioria absoluta que possuiu por 13 anos –apesar de ter sido o primeiro, com 40,6% dos votos– e surpreendeu até o partido.
"Esse é um sucesso que superou as nossas expectativas", disse um alto funcionário do AKP à agência Reuters.
O revés de junho trouxe à tona a ambição do chefe de Estado de impor ao país uma "superpresidência", com prerrogativas reforçadas.
Erdogan fez tudo o que era possível para atrapalhar as negociações de coalizão do governo e então decidiu convocar eleições antecipadas.
No entanto, para levar a cabo a mudança na Constituição, que transformaria sua Presidência, hoje cerimonial, em executiva, seriam necessários três quintos do Parlamento, o que não conquistou nas urnas.
O Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata) ficou em segundo lugar, com 25,4%, seguido pelo Partido da Ação Nacionalista (MHP, direita), com 12%, que melhorou seu desempenho em relação à eleição anterior.
Depois de uma entrada triunfal na câmara em junho passado, o Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo) teve um mau resultado: angariou 10,6% dos votos –o que garante, no entanto, sua permanência no Parlamento.
Em Diyarbakir, a principal cidade curda da Turquia, houve confronto entre policiais e ativistas depois da divulgação dos resultados prévios. Oficiais dispararam gás lacrimogêneo contra manifestantes que protestavam atirando pedras. Os distúrbios começaram diante da sede do partido pró-curdo HDP.
MEDO DA INSTABILIDADE
Os 54 milhões de eleitores turcos compareceram em massa às urnas para eleger o novo Parlamento, em um contexto de alta tensão devido à retomada do conflito curdo, à violência extremista procedente da Síria e às alegadas tendências autoritárias do governo.
"O medo da instabilidade na Turquia e a estratégia de Erdogan de se apresentar como o homem forte que pode proteger o povo venceram", analisou, por sua parte, Soner Cagaptay, do Washington Institute.
Erdogan e seu primeiro-ministro e líder do AKP, Ahmet Davutoglu, se apresentaram como os únicos que podem garantir a segurança e unidade do país.
"A Turquia tem feito grandes progressos no caminho da democracia e isso será reforçado com as eleições de hoje", afirmou Erdogan ao depositar seu voto.
Davutoglu, que votou em Konya, reduto conservador no centro do país, comemorou a conquista do partido.
"Essa vitória não é nossa. A vitória pertence ao povo", afirmou Davutoglu, diante de uma multidão de simpatizantes do AKP.
"Deus abençoe vocês por nos apoiarem nos piores momentos", ele disse. "Hoje é um dia de vitória, mas também um dia de modéstia."
O resultado oficial só será divulgado em 11 dias, quando acaba o prazo para pedidos de revisão que poderiam ser feitos pelos partidos.
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