Saturada, Pequim prepara reforma urbana
Fotos da Praça da Paz Celestial, em Pequim |
Kevin Frayer-1º e 2.dez.2015/Getty Images | ||
Fotos da Praça da Paz Celestial, em Pequim |
Três picos de poluição invadiram Pequim no último mês, mergulhando os habitantes da capital de uma das maiores economias do mundo em uma espessa e malcheirosa neblina.
A frequente baixa qualidade do ar aliada ao trânsito caótico em qualquer hora do dia, ao custo elevado da moradia e aos longos deslocamentos para o trabalho tornam viver em Pequim uma resistência constante.
Greg Baker/AFP | ||
Trânsito e poluição em em Pequim no dia após o Natal |
O governo da capital, no entanto, promete uma situação melhor no curto prazo, com o deslocamento de parte das funções administrativas do centro para um subúrbio ao Leste da cidade, um aperto no controle populacional nas áreas centrais e a mudança de mercados atacadistas para outras regiões.
Com a migração de escritórios da administração local para Tongzhou, a cerca de 40 minutos do centro de Pequim, nos próximos dois anos, o governo da cidade pretende deslocar 400 mil pessoas para o subúrbio. A capital tem, hoje, uma população estimada em mais de 21,5 milhões de pessoas, e a meta de estabilizar esse número em 23 milhões até 2020.
Paralelamente, a cidade está empenhada em liberar espaços hoje ocupados por mercados atacadistas, postos de reciclagem e algumas indústrias. Segundo o governo local, 51 atacadistas foram retirados, só em 2015, do distrito de Chaoyang, uma das principais áreas da capital.
Esse movimento da cidade se integra a um plano mais ousado, de médio prazo, que promete melhor conectar Pequim, Tianjin (a cerca de 110 km da capital) e a província de Hebei, desenvolvendo a grande região urbana de Jing-Jin-Ji -"Jing" para Beijing, "Jin" para Tianjin e "Ji" para o nome tradicional de Hebei. Esse aglomerado tinha, em 2013, uma população estimada em mais de 110 milhões de pessoas (quase três Argentinas).
A ideia é ampliar na região a presença de trens rápidos e estradas e de serviços hospitalares e escolas, além de dispersar indústrias da capital e setorizar os serviços prestados por cada cidade. Ao mesmo tempo, espera-se, a descentralização reduziria a pressão sobre Pequim, com melhoria da qualidade do ar, do trânsito e de moradia.
A população da capital e seus arredores tem mantido crescimento importante, enquanto outras concentrações urbanas chinesas desaceleraram nos últimos cinco anos, diz Wendell Cox, da consultoria americana para políticas públicas e demografia Demographia.
"A China continua com menos de 60% da população em área urbana, e o governo reconhece acertadamente que crescimento econômico continuado requer que também continue o aumento da urbanização."
Para Cox, a descentralização é a melhor solução. "Abrigar mais pessoas em Pequim não faz sentido."
"RATOS"
Quem olha para o céu da capital e se impressiona com o "smog" frequente pode deixar de ver algo tão impressionante quanto a poluição: milhares de pessoas que vivem em pequenos quartos montados em abrigos subterrâneos. Já apelidada de "a tribo dos ratos", essa população se espalha pela cidade e é basicamente composta de migrantes de baixa renda.
A chinesa Meng Fang, 25, da província de Shaanxi, vive há quatro anos em um quarto sem janela em um dos subsolos da região de Liangmaqiao, uma área nobre de Pequim. Ali, o aluguel dos quartos dentro de um túnel varia de R$ 180 a R$ 430. A um quarteirão de Fang, o aluguel de um apartamento em um prédio de padrão internacional chega a R$ 21 mil.
Desempregada, ela diz que se mudaria para o subúrbio caso houvesse trabalho por perto e moradia barata —resposta ouvida repetidamente pela reportagem quando visitou vários desses túneis, em setembro.
Os subterrâneos variam em limpeza e organização. A maioria dos visitados tinha luzes de emergência e sinalizações de saída; os banheiros são coletivos e há serviços de internet disponíveis.
E qual será o eventual impacto de Jing-Jin-Ji sobre essa população marginalizada da capital?
"Minha esperança é por uma visão mais inclusiva de desenvolvimento urbano, uma que dê espaço para a população migrante e de baixa renda. Mas esse é um desafio real dadas as dinâmicas do setor imobiliário e dos deslocamentos", diz Annette Kim, diretora do laboratório de análises espaciais da Universidade do Sul da Califórnia e autora de estudos sobre a "tribo dos ratos" de Pequim.
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