Presidente do Irã é acolhido na França com pactos comerciais e protestos
O presidente iraniano, Hasan Rowhani, foi acolhido por empresários e autoridades franceses e encomendou nesta quinta-feira (28) 118 aviões comerciais Airbus para a Iran Air. A negociação foi feita em mais um dia de seu "tour" pela Europa para aprofundar a abertura econômica de Teerã após a implementação de um acordo nuclear.
O acordo com a Airbus engloba 45 aviões modelo A320, 45 A330, 16 A350 e 12 A380.
"A França disse estar pronta para entrar novamente no Irã, com energia e vontade renovadas. Nós viemos aqui para dar boas-vindas a empresários e investidores franceses que começarão atividades econômicas no Irã", afirmou Rowhani a uma plateia de executivos em conferência da confederação patronal Medef.
Stephane De Sakutin/Efe | ||
Presidentes do Irã, Hasan Rowhani (esq.), e da França, François Hollande, reunidos no Palácio do Eliseu |
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, que também participou do evento, disse que os dois países devem esquecer rancores passados. "O Irã pode contar com a França", declarou o premiê.
Mais cedo, Valls havia afirmado que o governo francês assinará pactos comerciais com o Irã nas áreas de saúde, agricultura e ambiente.
A montadora francesa Peugeot-Citroen também anunciou um acordo com a empresa Iran Khodro para criar três novos modelos de carro e produzir 200 mil automóveis por ano no país persa.
ENCONTRO COM HOLLANDE
Mais tarde, Rowhani reuniu-se com o presidente François Hollande no Palácio do Eliseu, sede do Executivo francês.
Em entrevista coletiva após o encontro, o líder iraniano –aliado do ditador sírio, Bashar al-Assad– disse que o principal problema da Síria é o terrorismo, "não quem a governa", e acrescentou que cabe aos próprios sírios decidir sobre seu futuro, rechaçando uma intervenção externa no país.
Potências como os EUA e seus aliados defendem uma transição de regime na Síria, em guerra civil desde 2011, que inclua a saída de Assad, rejeitada pelo Irã e pela Rússia.
Rowhani também prometeu manter os compromissos assumidos por Teerã no acordo nuclear, mas cobrou que as potências ocidentais envolvidas (EUA, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha) também façam sua parte.
Hollande, por sua vez, declarou que a "nova era" nas relações franco-iranianas não significa que os dois países tenham resolvido suas diferenças.
O presidente francês disse ter conversado "sobre tudo" no encontro com Rowhani e ter ressaltado o "compromisso" da França com direitos humanos e liberdades.
PROTESTOS
O acolhimento do líder iraniano por empresários e pelo governo francês contrastou com o clima de protesto em algumas ruas de Paris.
Ativistas convocaram manifestações contra a visita de Rowhani, denunciando violações de direitos humanos cometidas pelo regime teocrático.
Em uma ponte de pedestres, uma ativista do grupo Femen pendurou-se por uma corda, simulando um enforcamento, para criticar as penas de morte aplicadas pelo Irã. O país é o segundo no mundo em execuções, ficando atrás da China, apenas.
FIM DO ISOLAMENTO
A agenda de Rowhani em Paris faz parte da primeira visita de um presidente iraniano à Europa em quase duas décadas. Mais cedo nesta semana, antes de embarcar para a França, Rowhani passou pela Itália e pelo Vaticano, onde se reuniu com o papa Francisco.
Com a viagem à Europa, o presidente busca melhorar a posição de Teerã no cenário internacional. Os líderes europeus, por sua vez, buscam trazer o país persa para negociações de paz a fim de resolver conflitos no Oriente Médio.
A ida de Rowhani à Europa ocorre pouco mais de uma semana depois de o Irã anunciar que cumpriu as metas previstas em um acordo histórico, assinado juntamente com as potências mundiais em julho, para limitar o programa nuclear da república islâmica.
A implementação do acordo nuclear abriu caminho para EUA e União Europeia levantarem uma série de sanções que vinham sufocando a economia iraniana.
À procura de interessados em investir no país com o fim das sanções, Rowhani lidera uma delegação de 120 pessoas, que inclui empresários iranianos e o ministro de petróleo e gás —o país persa é um dos maiores produtores de petróleo do mundo.
Originalmente previsto para novembro, a viagem do presidente do Irã foi adiada em razão dos atentados de 13 de novembro em Paris, que deixaram pelo menos 130 mortos.
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FIM DO ISOLAMENTO IRANIANO
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