Saída de tropas da ONU do Haiti deve atrasar com impasse político

ISABEL FLECK
DE SÃO PAULO

O adiamento sem data definida do segundo turno das eleições presidenciais e o clima de incerteza política no Haiti já atrasaram o calendário para a retirada das tropas da ONU do país e podem ameaçar a saída da força militar, prevista para este ano.

O alerta foi feito pelo general brasileiro Ajax Porto Pinheiro, comandante das forças de paz.

"Como a situação está indefinida, existe, sim, a possibilidade de o término da missão ser adiado. A ONU espera a evolução política do país para definir a parte de segurança", disse à Folha. "Não temos prazo mais para nada", acrescentou.

Neste domingo (7), termina o mandato do presidente Michel Martelly, e ele anunciou que deixará o poder, apesar de não estar definido ainda quem assumirá seu lugar.

A indefinição colocou em alerta máximo as tropas da ONU, que têm a missão de agir depois da polícia haitiana e da força policial da ONU.

O general Pinheiro, que comanda 2.370 militares no país (1.520 só em Porto Príncipe), pediu reforço para a capital de 150 soldados que normalmente ficam no norte do país.

"O clima é de tensão, incerteza. Se a situação se agravar, temos um plano de atuar: isolando grupos, evitando confronto", disse. "Estamos preparados para o pior, mas esperamos que não aconteça."

Se confirmada, a saída de Martelly no domingo já seria vista como um ponto positivo pelo governo brasileiro.

"A saída do Martelly é importante porque representa o respeito à Constituição", diz o embaixador do Brasil no Haiti, Fernando de Mello Vidal.

"A expectativa é que se termine esse ciclo eleitoral o mais breve possível." Um bom sinal da intenção do presidente seria o jantar de despedida marcado para este sábado (6).

Para a sucessão, a ideia que parece ter mais consenso agora é a formação de um gabinete de transição, que tentaria concluir o processo eleitoral.

Ainda há, contudo, divergências entre governistas e opositores sobre quem estaria à frente da transição.

Especula-se que o atual premiê, Evans Paul, possa ficar à frente de um gabinete de transição, mas opositores pedem que seja um juiz da Suprema Corte.

Além disso, Paul, nome indicado por Martelly, não teve aprovação do Parlamento –que havia sido dissolvido sem a previsão de novas eleições em janeiro de 2015.

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