'A União Europeia abandonou a Macedônia', diz presidente do país
O presidente da Macedônia, Gjorge Ivanov, fez um duro ataque ao tratamento dado pela União Europeia a seu país na questão dos refugiados, em entrevista concedida ao tabloide alemão "Bild" publicada na edição desta sexta-feira (11).
"Eu tinha entendido que nós também éramos Europa", afirmou Ivanov. Para ele, o bloco europeu "abandonou" os macedônios.
Ivanov diz que o fechamento total da fronteira com a Grécia, anunciado na última quarta-feira (9), é uma forma de proteger a própria Europa de "um país europeu que, em vez de controlar o fluxo de refugiados, simplesmente nos encaminha adiante", numa referência aos gregos. "Nós não somos animais, que atiram em fugitivos de guerra."
Dimitar Dilkoff - 5.mar.2016/AFP | ||
Migrantes no campo improvisado na cidade grega de Idomeni, na fronteira com a Macedônia |
O presidente afirma que, enquanto Atenas terá à disposição € 700 milhões (R$ 2,9 bilhões) para lidar com os refugiados, a Macedônia não recebeu "nenhum centavo".
"Aqui não somos nada, não somos membros da UE, não fazemos parte do Espaço Schengen, não integramos a Otan. Ninguém nos quer", queixa-se Ivanov. A Macedônia é candidata a entrar no bloco europeu desde 2005.
Localizada na península balcânica, a Macedônia é um país estratégico para a solução da crise de refugiados. Está no centro da rota mais comum dos que entram no continente pela Grécia em rumo à Europa Central. Cerca de 1 milhão de pessoas passaram pela chamada rota balcânica ao longo de 2015.
Ivanov elogia a chanceler alemã, Angela Merkel, por sua "coragem" de ter feito um "gesto humanitário" aos refugiados no ano passado, quando se dispôs a acolhê-los. Mas ele diz que falta coragem agora para ver o que virá.
Segundo ele, a UE demora seis meses para organizar uma cúpula, e, enquanto isso, "20 milhões de migrantes entre o Egito e o Sudão aguardam para entrar na Europa".
Na última segunda-feira (7), uma reunião do bloco com a Turquia definiu que o governo turco levará de volta a seu território migrantes e refugiados que tenham cruzado o mar Egeu e chegado às ilhas gregas. Em troca, a cada sírio apanhado nessas operações, outro que já esteja acampado em solo turco terá de ser reassentado em algum país da UE.
Nessa reunião, a maioria dos países queria que o texto final mencionasse o fechamento da rota balcânica, mas Merkel conseguiu barrar a iniciativa, dizendo que era preciso mais tempo para tomar soluções conjuntas.
Novo encontro da UE sobre refugiados será nos dias 17 e 18 deste mês. No entanto, além da Macedônia, a Sérvia, a Croácia e a Eslovênia já fecharam suas fronteiras para refugiados.
A situação mais dramática ocorre justamente na fronteira da Macedônia com a Grécia. Do lado grego, cerca de 13 mil pessoas aguardam em condições precárias no campo de refugiados de Idomeni e em áreas vizinhas, na esperança de que a passagem seja reaberta —o que não está nos planos imediatos da Macedônia.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis