Obama critica Cameron e Sarkozy por omissão na Líbia pós-Gaddafi
Em uma longa entrevista à revista americana "The Atlantic", divulgada na noite de quinta-feira (10), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, usou linguagem pouco diplomática para criticar o premiê britânico, David Cameron, e o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy por terem sido supostamente negligentes com a situação da Líbia após a queda do ditador Muammar Gaddafi, em 2011.
Obama afirma que Cameron deixou de se preocupar com o país após a intervenção militar liderada pela Otan (aliança militar do Ocidente), porque estava "distraído com uma série de outras coisas".
Marinha dos EUA - 19.mar.2011/AFP | ||
Navio militar dos EUA no Mediterrâneo dispara contra a Líbia |
Sobre Sarkozy, disse que o ex-líder estava mais interessado em "alardear seu envolvimento na campanha de bombardeios aéreos, apesar de os responsáveis por acabar com as defesas aéreas e fornecer a infraestrutura termos sido nós".
Segundo o autor da entrevista, Jeffrey Goldberg, Obama classifica a Líbia diplomaticamente de "bagunça", mas, em privado, chama a situação de "shit show" (show de merdas, em tradução literal). "Quando reflito e me pergunto o que deu errado, vejo espaço para crítica, porque eu tinha mais fé em que os europeus, dada a proximidade com a Líbia, estariam mais envolvidos com a situação", diz Obama.
A franqueza do presidente americano teve repercussão. O jornal "The Independent" disse que Obama havia lançado "um ataque verbal sem precedentes" contra Cameron.
O "Guardian" destacou o trecho em que o líder americano diz ter avisado o premiê britânico que a "relação especial" entre os países estava em risco se o Reino Unido não se comprometesse a destinar 2% do PIB para defesa, como prevê a Otan.
O governo americano agiu rápido para atenuar as declarações. Nesta sexta (11), o embaixador os EUA no Reino Unido, Matthew Barzun, disse que "nossa relação é essencial, especial, o que é verdade ontem, hoje e amanhã".
O gabinete de Cameron também se esquivou da polêmica. "Concordamos com a declaração do presidente dos EUA de que a Líbia apresenta muitos desafios difíceis", disse um porta-voz. "Mas sair em auxílio de civis inocentes que estavam sendo torturados e mortos por seu líder foi o correto."
Sarkozy tampouco comentou a entrevista, mas o parlamentar Hervé Mariton, do partido do ex-presidente, disse que daria um espelho a Obama para ver que todos falharam na tarefa de pacificar a Líbia, hoje comandada por dois grupos políticos rivais, dos quais apenas um reconhecido internacionalmente.
Reprodução | ||
'Obama diz que Cameron permitiu que a Líbia virasse um 'show de horrores' ('shit show')', diz jornal |
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