Premiê da Islândia renuncia após escândalo dos "Panama Papers"
O premiê da Islândia, Sigmundur Gunnlaugsson, renunciou nesta terça-feira (5), dois dias após seu nome aparecer nos documentos da investigação conhecida como "Panama Papers".
Ele é a primeira vítima da divulgação de milhares de documentos que mostram como o escritório panamenho Mossack Fonseca ajudava a elite política e econômica de vários países a abrir empresas offshore em paraísos fiscais.
Sigtryggur Johannsson/Reuters | ||
Premiê islandês, Sigmundur Gunnlaugsson, na residência oficial, em Reykjavík, antes de renunciar |
Gunnlaugsson chegou a rejeitar na segunda (4) deixar o cargo, mas cedeu aos protestos de milhares de islandeses que pediram sua saída.
Segundo os papéis vazados, ele e sua mulher criaram em 2007 a offshore Wintris, nas Ilhas Virgens Britânicas, para administrar a fortuna da família dela. Gunnlaugsson manteve 50% das ações até 2009, quando vendeu sua parte à mulher por US$ 1.
Não há evidências de que o premiê tenha usado a offshore para fins ilícitos, como sonegar impostos, mas o fato de ele nunca ter falado publicamente sobre o assunto enraiveceu os islandeses, que viram nisso uma tentativa de esconder dinheiro no exterior.
O tema é especialmente delicado na Islândia, pois a economia do pequeno país europeu de 330 mil habitantes quebrou em 2008 por um esquema em que bancos usavam offshores para ocultar operações financeiras de risco.
Gunnlaugsson assumiu em 2013 justamente com o discurso de coibir essa prática e de manter o patrimônio dos islandeses em seu próprio país. No comunicado da renúncia, o premiê se diz "especialmente orgulhoso da forma como lidou com credores dos bancos islandeses que faliram".
Na manhã desta terça (5), ele se reuniu com o presidente Ólafur Grimsson para pedir a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições, com sua permanência no cargo até o novo pleito. A proposta foi recusada, o que tornou sua situação insustentável.
Após a renúncia, parlamentares do Partido Progressista, de Gunnlaugsson, propuseram como substituto Sigurdur Johannsson, ministro da Pesca e Agricultura. Mas a oposição afirmou que manterá a moção de censura à coalizão governista. Até a noite desta terça, manifestantes permaneciam nas ruas para cobrar novas eleições.
REINO UNIDO E FRANÇA
Após ter feito um discurso sobre União Europeia, o premiê britânico, David Cameron, esquivou-se de uma pergunta da rede Sky News sobre a offshore aberta nas Bahamas por seu pai, Ian, também mencionado nos "Panama Papers".
O repórter indagou se a família de Cameron se beneficiou ou poderia ainda se beneficiar do dinheiro aplicado na empresa. "Sobre minhas questões financeiras, não possuo ações, fundos offshore, nada disso", respondeu.
Em comunicado divulgado posteriormente, o gabinete do premiê afirmou que nem os filhos ou a mulher dele se beneficiam do dinheiro que era administrado no exterior por Ian Cameron, morto em 2010. Inicialmente, a assessoria do líder britânico havia dito que o assunto era "privado". O opositor Partido Trabalhista cobra uma investigação independente sobre as finanças pessoais de Cameron.
Também nesta terça, o jornal francês "Le Monde", com base no "Panama Papers", publicou que pessoas próximas a Marine Le Pen, presidente do partido de extrema-direita Frente Nacional (FN), criaram um complexo sistema de empresas em paraísos fiscais.
Segundo o diário, o sistema funcionava com companhias localizadas em Hong Kong, Cingapura, Ilhas Virgens Britânicas e Panamá e serviu para "retirar dinheiro da França utilizando empresas de fachada com o objetivo de escapar do combate à lavagem de dinheiro no país". Em comunicado, a FN afirmou que "não está envolvida no caso".
Stigtryggur Johannsson-4.abr.16/Reuters | ||
Islandeses protestam em Reykjavík pedindo a renúncia do premiê Gunnlaugsson |
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis