Ex-ministro de Economia da Argentina se nega a depor sobre venda de dólares
O último ministro de Economia do kirchnerismo, Axel Kicillof, se negou a declarar à Justiça nesta terça-feira (12) sobre a venda de dólares no mercado futuro.
O caso das operações financeiras que podem ter causado um prejuízo de bilhões de dólares à Argentina é o mesmo que levará a ex-presidente Cristina Kirchner a depor na quarta (13).
Kicillof, que hoje é deputado federal, foi até o tribunal, mas apenas apresentou ao juiz um documento em que afirma que o próprio processo não indica a ocorrência de delitos ou irregularidades. Para o economista, a ação é "exclusivamente" política e pretende "processar penalmente a política econômica e cambial" do governo de Cristina.
Stan Honda/AFP | ||
O ex-ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof |
No texto, o deputado provoca o atual presidente Mauricio Macri ao dizer que não há denúncias de que alguém da gestão kirchnerista tenha se beneficiado com as operações financeiras.
"Não há nenhuma menção a sociedades offshores em Bahamas ou Panamá no nome de algum dos supostamente envolvidos [no caso de venda de dólares]", afirma se referindo ao caso em que Macri é investigado por ter sido nomeado diretor de empresas constituídas em paraísos fiscais.
Kicillof escreveu ainda que a ação trata "dos aspectos cambiais da política econômica do governo anterior [a gestão kirchnerista], partindo da premissa de que o plano econômico do atual governo [de Mauricio Macri] é muito melhor".
PREJUÍZO BILIONÁRIO
O juiz Claudio Bonadio, um dos maiores inimigos do kirchnerismo e autor de vários processos contra políticos ligados a Cristina, estima que as perdas aos cofres públicos chegam a 77 bilhões de pesos (R$ 18,6 bilhões). Os cálculos iniciais apontavam para algo ao redor de R$ 7 bilhões, mas o valor aumentou porque a maioria dos contratos venceu recentemente, no fim de março.
O prejuízo ocorreu porque o Banco Central fechou operações financeiras entre setembro e novembro de 2015 considerando que US$ 1 valeria 10,28 pesos no fim de janeiro de 2016. No mercado financeiro, porém, já se trabalhava com a moeda a 16 pesos. O resultado final de janeiro foi 13,9 pesos, o que obrigou o Banco Central a cobrir a diferença média de 3,6 pesos por dólar.
Os kirchneristas defendem que a comercialização do dólar a um preço inferior foi feita para indicar que o banco pretendia manter o peso valorizado. "Cada vez que o Banco Central intervem em um mercado, a intenção é regular o preço", afirmou Kicillof no documento. "Se isso fosse proibido, não haveria política monetária nem existiriam bancos centrais como reguladores do mercado."
O economista Aldo Pignanelli, que presidiu o Banco Central da Argentina em 2002, porém, diz que o Banco Central não pode vender moeda a qualquer valor. "Tem que comercializar ao melhor preço de mercado, e aí está o delito. A lei impõe um limite ao preço", afirmou à Folha.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis