Jornalistas são condenados na Turquia após publicação de sátira de Maomé
Dois jornalistas turcos foram condenados a dois anos de prisão cada um por um tribunal de Istambul nesta quinta-feira (28) pela reprodução, em 2015, de uma charge de Maomé originalmente publicada no semanário satírico francês "Charlie Hebdo", informou o advogado da defesa à agência de notícias AFP. O advogado de defesa, Bülent Utku, pretende apelar da sentença.
Charlie Hebdo/AFP | ||
Capa do jornal "Charlie Hebdo" em que Maomé segura placa com a frase "Tudo é perdoado" |
No dia 14 de janeiro de 2015, Hikmet Cetinkaya e Ceyda Karan, jornalistas do "Cumhuriyet", jornal de oposição ao governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, fizeram um editorial sobre os atentados contra o "Charlie Hebdo" acompanhado de reproduções da revista com uma charge de Maomé.
O desenho publicado representa Maomé chorando e carregando um cartaz com a frase "Je suis Charlie", o lema que surgiu na França e em todo o mundo após os atentados de janeiro de 2015, quando dois terroristas invadiram a redação do "Charlie Hebdo", em Paris, e mataram 12 pessoas, incluindo chargistas e outros funcionários.
A condenação dos jornalistas está inserida num contexto de repressão à imprensa turca. Em março, o jornal de oposição "Zaman" foi invadido por policiais e colocado sob o controle de uma equipe de gestores escolhida pelo governo; dias depois, o diário apresentava linha editorial totalmente distinta, favorável ao presidente do país.
Segundo a Associação dos Jornalistas da Turquia, há hoje 32 jornalistas presos no país e outras 24 sendo processados por "ofender" Erdogan. Quinze canais de TV foram excluídos de todas as plataformas digitais e satélites do país.
Em abril, a chanceler alemã Angela Merkel decidiu aceitar um pedido do governo da Turquia para abrir um processo criminal de injúria contra o apresentador de TV e humorista Jan Böhmermann devido um poema satírico contra o presidente turco.
No ano passado, um tribunal de Istambul ordenou a prisão de dois jornalistas do Cumhuriyet sob acusações de terrorismo e de terem revelado segredos de Estado. Eles foram soltos, mas serão julgados em uma corte à portas fechadas, ainda sem data de previsão.
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