Hillary Clinton e Donald Trump enfrentam recordes de rejeição
Ao que tudo indica, o republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton disputarão a sucessão de Barack Obama. Mas o farão sob a pecha de serem os candidatos mais odiados em dez eleições presidenciais nos EUA.
Pesquisas feitas em março e abril mostram como o eleitor se sente, desde 1980, em relação aos concorrentes à Casa Branca. Hillary e Trump batem o recorde de rejeição.
A parcela "fortemente desfavorável" à ex-secretária de Estado é de 37%. Os nove democratas anteriores marcam abaixo dos 30% -entre 4% (Michael Dukakis, que perdeu para George Bush pai em 1988) e 28% (Obama em 2012).
"Já Trump está em outro planeta", diz o site do estatístico Nate Silver, FiveThirtyEight, que levanta os dados.
A taxa de reprovação extrema do empresário orbita em 53%, o que faz dele o líder na série histórica estudada por Silver, entre candidatos, e o segundo republicano a pleitear a Casa Branca mais desprezado pelos americanos.
O recordista: David Duke, "grande mago" na organização supremacista Klu Klux Klan, que tentou ser presidente pelos democratas (1988) e pelos republicanos (1992), mas obteve zero delegados. Em pesquisa de sua última campanha, 7 em 10 americanos o rechaçavam.
Spencer Platt/Getty Images/AFP | ||
Trump fala durante comício nas primárias do Estado de Indiana |
Ele agora endossa o magnata, que já somou 1.053 (42,5%) dos 2.472 delegados do partido, derrubou todos os 16 adversários e está a caminho de se tornar o pré-candidato mais votado na história das prévias republicanas.
Trump conquistou até aqui 10,6 milhões de votos -ainda falta um mês para o fim das prévias, 7 de junho, quando a gigante Califórnia vota.
O recorde hoje é de George W. Bush, com 10,8 milhões de votos em 2000 -quando apenas 4% o reprovavam fortemente entre março e abril.
Faltam seis meses até as eleições, janela ampla para uma gangorra eleitoral. Em 2000, por exemplo, Bush acabou disputando cada voto com Al Gore, que meio ano antes era quatro vezes mais malquisto pelo eleitorado.
TCHAU, QUERIDO?
Caciques republicanos vivem um dilema diante de Trump, seu número um mais odiado em quatro décadas.
"Não estou pronto para isso [respaldar Trump]", afirmou nesta quinta (5) o presidente da Câmara, Paul Ryan.
No mesmo dia, Bush e seu pai, George H. -os únicos ex-presidentes republicanos vivos- emitiram comunicados nos quais disseram que não planejam participar da campanha. Jeb Bush, irmão e filho dos ex-inquilinos da Casa Branca, perdeu as prévias.
Publicamente, porém, parte do comando do partido defende unir a legenda para tirar os democratas do poder.
Dois ex-presidenciáveis, Mitt Romney e John McCain, estão no time, mas sem descer totalmente do muro: descartam ir à convenção do partido, em julho, que deve ungir o empresário candidato.
Não é só aversão pessoal que move os anti-Trump.
O magnata é tido como repelente eleitoral. McCain, por exemplo, teme por sua reeleição como senador pelo Arizona. "Se Trump estiver no alto da cédula, com 30% dos votos hispânicos aqui, pode ser a eleição da minha vida", disse em evento particular, segundo o site Político.
"O conflito nos próximos meses, para Trump e também Hillary, será duplo: ganhar os eleitores independentes [sem filiação partidária, que muitos eleitores americanos carregam no registro eleitoral] e mobilizar as bases", prevê à Folha o presidente da Ipsos Public Affairs, Cliff Young. O voto nos EUA é facultativo.
Trump, que chegou tão longe sem simpatia da cúpula partidária, acenou a uma parcela com a qual está mal. "Os melhores tacos são do Trump Grill. Amo os hispânicos!", escreveu no Twitter.
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