Saída de Dilma é golpe para reverter avanços da esquerda, diz Maduro
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse na noite desta quinta-feira que o processo de impeachment de Dilma Rousseff é um "golpe de Estado" orquestrado pelos EUA para reverter avanços da esquerda na América Latina e torpedear potências emergentes.
"Por trás desse golpe está a marca 'made in USA'. Não tenho a menor dúvida disso. Faz parte do legado [do presidente Barack] Obama na América Latina", afirmou Maduro em discurso desde o Palácio de Miraflores transmitido em cadeia nacional de rádio e TV.
Handout/Reuters | ||
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, se dirige aos ministros em reunião de gabinete em Caracas |
O pronunciamento foi projetado por telão numa praça do centro de Caracas onde o governo havia reunido centenas de pessoas em ato de apoio a Dilma e ao PT.
"Quem move os fios do poder sabe que o Brasil é muito importante para o rumo da América Latina, do Caribe e do mundo. O golpe serve para neutralizar o Brasil e prejudicar os Brics [foro econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.]", afirmou Maduro.
O presidente se referiu a Dilma como uma "das líderes mais honestas deste planeta Terra" e uma "mulher incorruptível, uma democrata forjada nos campos de tortura da ditadura brasileira".
Segundo Maduro, o afastamento de Dilma é um "péssimo sinal" para a América Latina que expõe suposta manobra da direita para reverter avanços sociais em países governados pela esquerda, como Bolívia, Equador e a própria Venezuela.
"Agora [as oligarquias] vêm com tudo contra nós. Por isso amanhã [sexta] farei anúncios importantes para defender a economia e a paz no país", afirmou o presidente, que costuma responsabilizar inimigos externos e inimigos pela devastadora crise econômica na Venezuela.
Na praça Bolívar, no centro histórico de Caracas, participantes da manifestação pró-Dilma aplaudiam a fala de Maduro. Mas a maioria dos presentes, conforme comprovado pela Folha, eram funcionários públicos convocados a comparecer.
Questionada pelo repórter sobre o motivo de estar segurando uma bandeirinha brasileira, uma servidora que não quis se identificar disse: "acho que tem a ver com a situação no Brasil, não sei direito, só me deram essa bandeira. Pergunte à supervisora", disse, aos risos.
A supervisora afirmou que o ato era um "recado ao império", mas não soube explicar porque Dilma havia sido afastada.
OPOSIÇÃO COMEMORA
A mudança de governo no Brasil foi comemorada por amplos setores da oposição, que sempre acusaram o governo petista de leniência com abusos cometidos por chavistas.
A manifestação mais contundente partiu da ex-deputada direitista Maria Corina Machado, ligada à ala mais radical da oposição.
"Hoje começa uma nova etapa para o Brasil e para a democracia na América Latina. A região não se calará mais diante do drama na Venezuela", disse no Twitter.
O deputado Julio Borges, um dos mais influentes da oposição, sugeriu que o caso brasileiro deve servir de lição para o governo venezuelano.
"Até pouco tempo atrás víamos uma Dilma Rousseff cheia de soberba e, hoje, ela está fora do poder. Maduro, olhe-se nesse espelho", postou Borges no Twitter.
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