Não haverá referendo contra Maduro, diz vice-presidente da Venezuela
O vice-presidente da Venezuela, Aristóbulo Istúriz, descartou neste domingo (15) que seja realizado o referendo revogatório com o qual a oposição pretende destituir o presidente Nicolás Maduro.
"Aqui Maduro não vai sair por referendo, esqueçam essa ideia [...] porque não vai ter referendo", disse Istúriz durante evento, transmitido pela TV, em apoio à presidente afastada Dilma Rousseff.
Federico Parra/AFP | ||
Opositores ao presidente Nicolás Maduro protestam pela realização do referendo revogatório em Caracas |
"[Os opositores] sabem que não haverá referendo porque, primeiro, fizeram tarde; segundo, porque fizeram mal; terceiro, porque cometeram fraudes", afirmou o vice.
Ele, aparentemente, se referia ao fato de a oposição só ter iniciado os trâmites formais no mês passado (poderia tê-lo feito em janeiro) e ter errado ao recolher e entregar ao chavista Conselho Nacional Eleitoral (CNE) muito mais assinaturas do que o necessário nesta fase.
Pela lei venezuelana, o primeiro passo para organizar um referendo revogatório contra qualquer cargo eleito é recolher assinaturas de 1% dos eleitores registrados —equivalente a 198 mil pessoas, no âmbito nacional.
A oposição entregou ao CNE mais de 1,8 milhão de assinaturas, o que está sendo implicitamente usado pelo órgão eleitoral como justificativa para a extensão do prazo para auditar as firmas.
O CNE afirmou que se pronunciará em 2 de junho. Pela lei, o órgão deveria encerrar a verificação em dez dias.
Chavistas também vêm acusando a oposição de ter inflado a lista de firmas com assinaturas falsas (com letra diferente) e nomes de mortos.
Antichavistas negam.
Depois de validados os dados iniciais, a oposição precisa apresentar outros 4 milhões de assinaturas para que o referendo seja convocado. Ainda não há prazo definido para essa segunda etapa.
Uma vez organizada a consulta, o "sim" precisaria ser aprovado por quantidade de eleitores superior aos 7,5 milhões de votos obtidos por Maduro nas eleições presidenciais de 2013.
Forças antichavistas, que encaram a mudança de governo como única saída para reverter a crise econômica e social abissal, têm pressa.
Se o referendo acontecer até 10 de janeiro de 2017, quem assume o Executivo até 2019 é o vice-presidente, que hoje é Istúriz. Pela Constituição venezuelana, o presidente pode mudar seu vice quando quiser durante o mandato.
No último sábado, o governador do Estado de Miranda e ex-candidato opositor à Presidência Henrique Capriles advertiu para o risco de uma explosão social caso o chavismo impeça a realização do referendo revogatório.
NOMES EXPOSTOS
Pressão contra o referendo também partiu do deputado e ex-presidente do Parlamento Diosdado Cabello, número dois do chavismo. Neste domingo (15), ele defendeu que sejam identificados todos os cidadãos que apoiarem a consulta popular.
"Temos o direito de saber quem são, seus nomes e sobrenomes, onde estão estas pessoas, para saber quem se opõe formalmente ao governo e não quer que Maduro continue no poder", disse à rede de TV estatal.
A frase soa como tentativa de intimidar uma população traumatizada pela divulgação dos nomes e consequente perseguição de quem votou pela saída do então presidente Hugo Chávez no referendo revogatório de 2004.
Cabello, porém, sugeriu que o referendo "pode se dar em 2017". Isso parece indicar que o deputado aceita a ideia de tirar Maduro da Presidência, contanto que o chavismo siga no poder com o vice.
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