Deputados de oposição a Maduro são agredidos após cobrarem referendo
Militantes aliados ao governo venezuelano agrediram nesta quinta-feira (9) deputados opositores que protestavam em Caracas diante do prédio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE, órgão eleitoral) para exigir a ativação de um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro ainda neste ano.
O ataque, visto como uma escalada perigosa na disputa em torno do referendo, acirrou tensões num ambiente já marcado pela proliferação dos saques e manifestações contra a falta de comida em vários setores da capital.
Juan Barreto/AFP | ||
Deputado da oposição Julio Borges é agredido durante protesto nesta quinta-feira (9) |
A agressão ocorreu no fim da manhã, quando os deputados chegaram à porta do CNE. Ao serem hostilizados por chavistas, os parlamentares tentaram se refugiar dentro do prédio, mas policiais os empurraram de volta para a rua, onde ficaram novamente vulneráveis.
A polícia não impediu as agressões, que também tiveram jornalistas como alvo.
Um dos mais atingidos foi o deputado Julio Borges, cujo nariz foi fraturado com uma barra de metal. Com o rosto ainda ensanguentado, ele atribuiu o ataque aos "coletivos", civis que atuam como milícias chavistas.
Simultaneamente ao protesto no CNE, "coletivos" tentaram invadir a Assembleia Nacional, controlada desde janeiro pela oposição.
O presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup, qualificou a situação de "muito grave". Alguns dirigentes chavistas condenaram a violência, mas Maduro culpou "provocadores de direita".
Em nota, o governo brasileiro manifestou preocupação com o ataque, pediu apuração dos fatos e considerou que as agressões dificultam o diálogo na Venezuela.
O ato pretendia pressionar o CNE a validar assinaturas recolhidas pela oposição na fase inicial de ativação do referendo e anunciar o cronograma das próximas etapas.
Por lei, o órgão deveria ter se pronunciado no início de maio, dias depois de receber da oposição aproximadamente 1,8 milhão de assinaturas em favor do referendo.
Eram necessárias apenas 200 mil (equivalente a 1% do número de eleitores) na etapa preliminar, mas os antichavistas decidiram apresentar um número expressivo de firmas para demonstrar o apoio à ideia de remover Maduro como antídoto à crise.
O CNE disse que encerraria as verificações em 2 de junho, mas ainda não oficalizou posição sobre o tema. Nesta quinta, um dos cinco reitores do CNE, Luis Emilio Rondón, disse que a validação das assinaturas será formalizada nesta sexta.
Também será anunciado, segundo Rondón, o período de 20 a 24 de junho para validação das firmas, última etapa antes da fase seguinte, na qual a oposição terá de recolher assinaturas de mais 20% dos eleitores.
Nicolás Maduro foi eleito em 2013 para um mandato que termina em janeiro de 2019. Caso o referendo aconteça, o "sim" à saída de Maduro precisaria ser aprovado por quantidade de eleitores maior que os 7,5 milhões de votos obtidos por Maduro em 2013.
A oposição acusa o governo de atrasar o processo para que eventual consulta só ocorra em 2017, quando a retirada de Maduro resultaria na posse do vice, sem necessidade de novas eleições.
Federico Parra/AFP | ||
Oposicionista Carlos Paparoni é impedido de entrar no prédio do conselho eleitoral nesta quinta (9) |
FÚRIA POPULAR
O dia também foi marcado por saques contra mercados, farmácias e padarias. A tensão concentrou-se na favela de Petare, no leste de Caracas, onde polícia e Exército foram chamados para controlar a multidão em fúria.
A tensão aumentou ao anoitecer. Nas redes sociais, usuários relatavam a presença de veículos blindados em meio a tiroteios e panelaços.
A ira popular se dirige em grande parte contra a venda de alimentos tabelados de porta em porta que o governo começou a implementar. Críticos dizem que aliados chavistas têm a preferência.
Um dos principais estrategistas da oposição reconheceu à Folha que o debate do referendo ainda está desconectado da revolta por falta de comida. "Ainda não conseguimos transformar essa raiva em apoio à consulta."
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