Boate atacada era ilha de tolerância, afirma brasileiro em Orlando
O brasileiro Davidson Pereira, 29, tem uma relação especial com a boate Pulse, cenário do pior ataque a tiros da história recente dos EUA, na madrugada de domingo (12).
Residente em Orlando desde 1994, foi na casa noturna que ele se sentiu seguro para assumir publicamente que é gay.
"Eu tinha 22 anos e quando descobri a Pulse me senti em casa. O clima era tão acolhedor que lá eu vi que não havia nenhum problema em ser quem eu sou", disse Davidson, que trabalha como professor de inglês.
Marcelo Ninio/Folhapress | ||
O brasileiro Davidson Pereira, 29, morador de Orlando e que frequenta a boate Pulse |
Ele conta que a Pulse e a Parliament House são das poucas casas noturnas de qualidade voltadas para o público na área de Orlando, por isso é comum ter amigos que frequentam a boate.
Mas ressaltou que também sempre havia heterossexuais na Pulse, atraídos pela boa música e o ambiente de festa. "Era um lugar para todos."
O contraste entre esse clima de tolerância e a brutalidade do massacre cometido na Pulse aumentou o choque sentido por Davidson ao ser acordado por telefonemas e mensagens de amigos de vários países querendo saber se ele estava bem, na manhã de domingo. "Meu telefone bombou. Mal podia acreditar que algo tão grave havia acontecido num lugar tão familiar", disse.
'CIDADE MÁGICA'
Paulista de Jundiaí (a 58 km de São Paulo) e vivendo há dois anos em Orlando, Luciano Dias também conhecia bem a Pulse. Ele conversou com a Folha logo após visitar um amigo venezuelano que trabalha como barman da boate e está entre os cerca de 50 feridos no atentado. Ele escapou com dois tiros na perna e não corre risco de vida.
"O que mais choca é que Orlando é uma cidade mágica, onde as pessoas vem para ser felizes", diz o brasileiro. "Além disso, a comunidade GLS de Orlando é pequena, então todos se conhecem de uma forma ou de outra."
Três quarteirões em torno da Pulse continuam isolados pela polícia, enquanto dezenas de jornalistas de várias partes do mundo acampam nas proximidades à espera de novidades sobre a investigação.
Cercado de repórteres, Chris Hansen, um dos sobreviventes da tragédia, perdeu a conta das vezes que relatou como conseguiu escapar da Pulse quando os tiros começaram.
"Pum, pum, pum!", relembrou. "No começo achei que era parte da batida da música, até perceber o que estava acontecendo". Gritos gerais e todos se jogaram no chão.
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Chris Hansen, um dos sobreviventes da tragédia na boate em Orlando, dá entrevista a repórteres |
Hansen afirma que chegou a ser pisoteado por frequentadores desesperados na rota de fuga, até se levantar e sair da boate.
Fora da Pulse, ele diz que continuou a ouvir tiros sendo disparados dentro da casa noturna. Questionado sobre o tempo que tudo durou, diz que foi "o tempo de uma música".
Depois de se certificar que não havia sido atingido, Hansen passou a ajudar as vítimas. Carregou vários feridos para longe do local do crime.
"Quando eu percebi que o sangue não era meu e eu estava bem, senti que era obrigação ajudar", disse. "Tenho certeza de que essa tragédia vai fortalecer e unir a nossa comunidade."
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