Análise
Internet oferece caminho livre à radicalização islâmica
Investigadores americanos se debruçam, a partir de agora, no conteúdo acessado por Omar Mateen na internet.
A rede pode ajudar as autoridades a entender que caminho esse jovem trilhou até chegar à boate gay em que, armado, matou 49 pessoas´.
A internet é, afinal, a possível origem do radicalismo de Mateen, como sugeriu o presidente Barack Obama na segunda-feira (13). As informações disseminadas ali teriam inspirado o terrorista.
A constatação não é inédita. Há algum tempo, analistas concordam que o espaço de radicalização não é mais a mesquita, e sim a rede.
Serviços de inteligência mantêm sua vigilância a locais de culto, mas o desafio está no escuro —em identificar, on-line, as ameaças.
Se Mateen realmente tiver se radicalizado pela internet, e se informado ali a respeito do Estado Islâmico, os investigadores vão deparar-se com um dilúvio. Não faltam oportunidades para um jovem informar-se, em inglês, sobre essa organização radical.
Não é necessário descer às fossas abissais da internet. A revista oficial do EI está disponível para download em sites de contraterrorismo. Basta simples busca no Google.
São centenas de páginas com uma sofisticada doutrina, baseada em uma interpretação extrema do islã. Há propaganda do "califado" criado em partes da Síria e do Iraque, entrevistas, imagens de vitórias militares. Explicações teológicas para a violência.
Jovens têm acesso, também, a contas em redes sociais como o Twitter e o Facebook, em que usuários radicais estabelecem seus vínculos e trocam informações.
Não haveria nenhum impedimento para que Mateen tivesse acesso a essas informações. Ele poderia radicalizar-se e dedicar um ataque ao EI sem ter tido contato formal com a organização terrorista.
O processo ocorre sem nenhum intermédio, ao contrário da mesquita, e também sem que o militante tenha a oportunidade de conhecer outras interpretações do islã. Exposto a uma visão radical e absolutamente minoritária, ele não tem referências do que é a prática regular da fé.
O cenário favorece organizações terroristas, às quais não importa se um ataque como o de Orlando foi organizado por eles ou não. A propaganda é, como no clichê, a alma desse negócio horrendo, e a ferramenta a partir da qual militantes são recrutados.
Com a inevitável atenção dada ao atentado na imprensa e na política, os terroristas parecem lamentavelmente ter, outra vez, vencido a partida.
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