Artes e academia se dividem em plebiscito sobre saída britânica da UE
Acadêmicos, artistas, escritores e cientistas britânicos se dividem entre a permanência e a saída do Reino Unido da União Europeia, que vai a plebiscito, nesta quinta (23).
No showbiz, os apoiadores da primeira alternativa vão de apresentadores de TV a diretores de orquestras.
O comediante John Oliver, em seu programa semanal na HBO, disse que o "Brexit" significaria uma decisão "altamente desestabilizadora" e apresentou um esquete musical em que ironiza tanto clichês da supremacia britânica como as características desabonadoras de outros países da Europa, para concluir que é melhor que todos continuem juntos.
Um dos principais atores do país, Ian McKellen, 77, conhecido por interpretar Gandalf em "Senhor dos Anéis", disse ao "Daily Telegraph" que teme que a saída britânica debilite a luta pelos direitos dos homossexuais em outros países do bloco. "Se você é homossexual, você é internacionalista. É a hora de apoiar a Europa e dar confiança a outros países que estão atrasados nesse aspecto."
Também se pronunciaram a favor da permanência, em redes sociais e abaixo-assinados, o compositor e produtor Brian Eno, o ex-guitarrista dos Smiths Johnny Marr, o ator Benedict Cumberbatch e os escritores Hilary Mantel, Ian McEwan, John le Carré e Philip Pullman, entre outros.
O diretor da Associação das Orquestras Britânicas, Mark Pemberton, afirmou: "Orquestras precisam de fronteiras abertas para existir, promover intercâmbio e trazer financiamento".
Não são poucos, porém, os artistas a favor da saída. Entre eles está o premiado ator Michael Caine, 83. "O Reino Unido não pode continuar fazendo o que ditam os funcionários sem rosto que fazem as regras da União Europeia", disse ao "Telegraph".
Em sua conta de Twitter, o ator e humorista John Cleese, do grupo Monty Python, não só defendeu a saída do bloco como sugeriu "enforcar Jean-Claude Juncker", o presidente da Comissão Europeia.
Koen van Weel/AFP | ||
O comediante britânico John Cleese, em evento na Holanda; ele é a favor da saída do Reino Unido |
O roqueiro Roger Daltrey, da banda The Who, disse ao tablóide "The Sun" que "a Europa fede e foi criada em segredo", defendendo a saída.
Também o roteirista da série "Downton Abbey", Julian Fellowes, um enfático conservador, disse ao "Daily Mail" que a permanência seria um retrocesso, pois criaria um gigante burocrático e mal-administrado, "como era o Império austro-húngaro".
Em entrevista à Folha, o escocês Irvine Welsh, convidado da próxima Flip, disse que as duas opções são ruins.
Mas os fatos de tantos plebiscitos e referendos (como os recentes na Escócia e na Catalunha) serem necessários e de eleições terem de ser refeitas (como na Espanha neste domingo) mostram "a falência do sistema democrático europeu de modo geral, e era com isso que deveríamos nos preocupar", afirma.
ACADEMIA
Historiadores que pedem a saída se reuniram no site historiansforbritain.org. Entre seus principais nomes estão Simon Heffer, Charles Moore e Rebecca Haynes.
Para fazer frente a eles, outro grupo, encabeçado por Simon Schama, Ian Kershaw e Niall Ferguson, organizou um abaixo-assinado com 300 assinaturas pela permanência.
À Folha, o historiador Robert Darnton, um norte-americano especialista em história europeia da Universidade Harvard (EUA), disse considerar a saída "um erro e um retrocesso". "Se ganha a saída, voltaremos a uma Europa dividida que sempre foi prejudicial a todos os países."
Já na ciência, um grupo de 150 especialistas, liderados por Stephen Hawking e Martin Rees, afirma que deixar o bloco prejudicaria a colaboração na área. "O financiamento europeu elevou o nível da ciência europeia em geral e britânica em particular", diz o texto da carta conjunta.
Não há manifestação pública de cientistas pró-saída.
IMPRENSA
Se nas artes e na academia as linhas foram traçadas com clareza, algo curioso ocorre nos jornais do magnata da mídia Rupert Murdoch. Enquanto "The Times" defende a permanência, o tabloide "The Sun" pede a saída.
Entre os demais, o progressista "Guardian" defende a permanência, e o conservador "Telegraph" quer a saída.
Já a prestigiosa "The Economist" defendeu a permanência em reportagem de capa intitulada "Divided we Fall" (divididos, cairemos).
"Ao longo dos anos, esta revista encontrou muito o que criticar na União Europeia. É um clube imperfeito, às vezes louco. Mas é muito melhor do que a alternativa. Deixá-lo seria um erro terrível. Enfraqueceria a Europa e empobreceria e dividiria o Reino Unido."
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis