Deputados democratas 'ocupam' Câmara por lei de restrição a armas

MARCELO NINIO
DE WASHINGTON

A divisão política sobre o acesso a armas de fogo parou a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos. Num protesto sem precedentes, deputados democratas "ocuparam" o plenário, sentando no chão e dizendo-se dispostos a não sair até que a maioria do opositor Partido Republicano aceite a votação de medidas de restrição ao acesso a armas.

Depois de quase 12 horas, alguns já preparavam travesseiros e cobertores para dormir num Congresso que teve sua primeira sessão em 1800, e nunca havia vivido algo parecido. O drama era transmitido ao vivo na TV pelos celulares dos deputados, depois que os republicanos cortaram a transmissão regular.

O protesto começou quando um grupo de parlamentares do Partido Democrata sentou no chão da Câmara nesta quarta (22) para forçar os republicanos a levar a votação duas medidas de restrição ao acesso a armas de fogo antes do recesso do Dia da Independência, na próxima semana.

"Sem lei, sem recesso", entoaram em coro os deputados governistas, em mais um confronto com a oposição republicana sobre um tema que gera uma polarização política explosiva nos EUA.

O debate sobre o controle de armas reaqueceu depois da morte de 49 pessoas em Orlando no dia 12, o mais grave ataque a tiros da história recente do país. Na última sexta (17), quatro propostas para aumentar o acesso a armas de fogo foram vetadas em votação na Câmara, acirrando a divisão.

"Nossa ação é pelos que não viram este dia, cujos dias foram levados em um instante, por armas de violência", disse a deputada democrata Steny Hoyer.

Diante do impasse, a maioria republicana declarou um recesso, mas os cerca de 30 deputados democratas se recusaram a deixar o plenário, mantendo o protesto. "Ficaremos o tempo que for preciso", disse um dos líderes, o veterano ativista dos direitos civis John Lewis.

Embora sejam consideradas modestas, as medidas que os democratas querem votar esbarram na resistência dos republicanos e nos milhões do lobby das armas. Uma delas é a de vetar a venda de armas a pessoas que estão proibidas de fazer viagens aéreas por suspeita de terrorismo. A outra, um sistema universal de checagem dos compradores de armas.

Os democratas afirmam que são medidas aprovadas por 90% dos americanos. Do lado de fora do Congresso, formou-se uma manifestação espontânea pelo aumento do controle de armas.

Para o republicano Paul Ryan, presidente da Câmara, o protesto democrata não passa de um "golpe publicitário". Ele advertiu que as normas da Casa estavam sendo violadas, mas o partido rival não lhe deu ouvido.
Amparados pelo lobby da Associação Nacional do Rifle (NRA), os opositores de restrições afirmam que elas contrariam os direitos individuais garantidos na Constituição. O drama virou pastelão quando Ryan reabriu a sessão com os republicanos de volta, mas foi abafado pelas vaias dos democratas. Nova suspensão e os democratas retomaram a ocupação, com cartazes e um painel com fotos de vítimas de massacres com armas de fogo.

Katherine Clark, que iniciou o protesto com John Lewis, disse que eles já esperavam que os republicanos cortariam a trasmissão da TV e se prepararam. "Sorte que entre nós há alguns muito bons em tecnologia", disse.
A sessão de protesto na Câmara tem sido transmitida por um aplicativo que permite transmissões ao vivo pela internet.

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