Merkel diz que Brexit é 'divisor de águas' e faz apelo por união da Europa
Markus Schreiber/Associated Press | ||
Chanceler alemã Angela Merkel fala durante entrevista coletiva sobre "Brexit" nesta sexta-feira (24) |
A chanceler alemã Angela Merkel definiu como "lamentável" e um "divisor de águas" para a integração das nações europeias a votação em que os britânicos optaram pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
"Precisamos reconhecer a decisão da maioria dos britânicos com grande pesar hoje", afirmou durante entrevista coletiva nesta sexta-feira (24).
Merkel também disse a repórteres que convidou o presidente francês François Hollande, o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi e o presidente do Conselho Europeu Donald Tusk para uma reunião em Berlim nesta segunda-feira (27) para discutir opções de garantia da união na Europa após o plebiscito.
Segundo a chanceler, a Alemanha tem um interesse particular e uma responsabilidade pelo sucesso da integração dos países europeus.
Merkel ainda afirmou que a UE deverá ser forte o suficiente para encontrar as repostas certas para a saída do Reino Unido. Ela disse ser importante que todos os outros 27 países membros da UE analisem a situação juntos de forma calma e sóbria e não se apressem para tomar decisões.
HOLLANDE
Em uma declaração televisada nesta sexta-feira, o presidente francês François Hollande disse que o Brexit é "um duro teste" para a UE e que deverá tomar iniciativas para colocar o bloco econômico de volta nos trilhos.
Stephane Mahe/Reuters | ||
Presidente francês François Hollande em declaração após plebiscito sobre a saída do Reino Unido da UE |
Hollande defendeu que a UE se foque em temas prioritários, como segurança e defesa, proteção de fronteiras e criação de empregos, assim como o reforço da zona do euro
"Para seguir em frente, a Europa não pode mais agir como antes", afirmou, defendendo mudanças nas ações do bloco. Hollande também declarou decisão de viajar a Berlim na segunda-feira para o encontro com Merkel e o primeiro-ministro italiano.
BREXIT
A campanha do plebiscito foi influenciada nos últimos dias pelo assassinato da deputada trabalhista Jo Cox, pró-Europa, por um ultranacionalista, dia 16. Até então, a saída levava ligeira vantagem na margem de erro.
Pesquisa do instituto YouGov divulgada logo após o fim da votação apontava 52% para a permanência e 48% para a saída da UE —sinal de quão acirrada foi a disputa. Esta não seria, porém, a primeira vez que os institutos britânicos errariam resultados. O mesmo ocorreu nas eleições gerais de 2015.
Reino Unido vota sobre o Brexit - Veja como foi a votação
Foram 15 horas de votação sob chuva, com alagamentos e interrupções no transporte.
O placar expõe um país dividido e, segundo analistas, despertará um sentimento anti-UE continente afora.
EFEITO DOMINÓ
Há risco de efeito dominó em outros países do bloco, que podem imitar a consulta popular para obter vantagem em negociações, e de impulso a movimentos separatistas como o escocês e o catalão.
O professor de política Tim Bale, da Universidade Queen Mary, de Londres, pondera que o "efeito dominó" tem mais força se o Reino Unido deixar efetivamente o bloco.
Ainda que não signifique o início de um potencial desmonte, há muitos europeus interessados em, ao menos, debater benefícios e potenciais problemas caso seus países decidam deixar a UE.
Pesquisa feita pelo instituto Ipsos Mori com 6.000 pessoas em nove países europeus em março e abril deste ano indicou que 45% dos entrevistados apoiam a ideia de se fazer uma consulta popular em seu próprio país, e um terço disse que votaria para sair do bloco.
A maioria dos franceses e italianos ouvidos concorda com um plebiscito. O instituto ouviu ainda cidadãos de Suécia, Espanha, Bélgica, Hungria, Polônia, Alemanha e do próprio Reino Unido.
Além do ceticismo quanto ao bloco, o plebiscito no Reino Unido despertou outro sentimento entre os europeus: o de não ser bem-vindo entre parte dos britânicos.
Cerca de 3 milhões de cidadãos de países-membros do bloco vivem no Reino Unido, e aproximadamente 2 milhões de britânicos estão nos outros 27 países da UE.
O livre trânsito de cidadãos da UE, uma das prerrogativas do bloco, transformou-se em um dos pontos de maior apelo durante a campanha do plebiscito. Favoráveis ao Brexit defendem que os imigrantes sobrecarregam o sistema de saúde, baixam os salários e "roubam" empregos.
Por isso, analistas avaliam que haverá muitas feridas a curar no Reino Unido após a votação. A disputa rachou o Partido Conservador e expôs fragilidades do Trabalhista. O cisma persistirá.
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