Disputa por cargo de premiê no Reino Unido fica entre duas mulheres
Quase 26 anos após Margaret Thatcher deixar o poder, o Reino Unido deverá voltar a ter uma mulher à frente do governo a partir de setembro.
Na segunda prévia para definir quem substituirá David Cameron na liderança do Partido Conservador (e consequentemente, no cargo de premiê), a bancada governista reduziu a disputa nesta quinta (7) a dois nomes: Theresa May, 59, secretária do Interior, e Andrea Leadsom, 53, secretária de Energia.
Frantzesco Kangaris/AFP | ||
Ministra do Interior, Theresa May, fala à imprensa em Londres, na semana passada |
A próxima e última etapa acontece na forma de votação por correio, e dela participam os 150 mil filiados ao partido.
O resultado deverá ser anunciado em 9 de setembro, e a vencedora vai se tornar a segunda mulher a assumir a função de primeira-ministra no país. A primeira foi Thatcher (1979-1990), que ganhou o apelido de Dama de Ferro.
Na votação desta quinta, May, que já liderara a primeira rodada entre cinco candidatos, recebeu 199 votos, e Leadsom, 84. O secretário da Justiça, Michael Gove, 48, teve 46 votos e foi eliminado.
Para participar da disputa, Gove havia rompido com o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, seu aliado. Johnson, que liderou a campanha pela saída britânica da União Europeia e se colocava como sucessor natural da liderança do partido, desistiu da disputa e apoiou Leadsom.
May, que está no gabinete há seis anos e abraçou a campanha para que o Reino Unido permanecesse na UE, se diz capaz de unir o partido —a vitória da decisão de sair do bloco em plebiscito no dia 23 criou um vácuo de liderança no país. "Essa votação mostra que o Partido Conservador pode se unir e, sob minha liderança, ele vai", disse.
Desde o plebiscito, Cameron, que defendeu a permanência na UE, anunciou que renunciaria; Johnson desistiu de concorrer à sucessão; o líder do partido nacionalista Ukip e defensor da separação Nigel Farage abandonou seu posto; e o Partido Trabalhista, pró-permanência, pressiona seu líder, Jeremy Corbyn, a fazer o mesmo.
Nenhum deles deu sinal de querer conduzir o processo de ruptura imediatamente.
NOVATA
Segunda colocada na votação, Andrea Leadsom foi eleita para o Parlamento britânico em 2010 e escolhida ministra em maio do ano passado, após carreira na área financeira —seu currículo tem sido alvo de questionamentos.
É vista como menos experiente na política que May, que por sua vez é descrita por aliados e rivais como uma nova versão de Thatcher por sua firmeza e conservadorismo. Na disputa do Brexit, Leadsom apoiou o lado vencedor e agora argumenta que o premiê deve ser alguém que acredita na saída do bloco.
Ben Stansall/AFP | ||
Andrea Leadsom acena a apoiadores antes de falar em ato em Londres, nesta quinta (7) |
Em discurso a simpatizantes, a secretária prometeu "banir os pessimistas" preocupados com o Brexit, argumentando que seria possível manter livres trocas comerciais com a União Europeia e, ao mesmo tempo, controlar o fluxo migratório para o Reino Unido —algo tido por críticos como pouco realista.
Além de Johnson, a ministra de Energia recebeu o apoio de Farage. "Importante que o próximo premiê seja favorável ao Brexit —ela tem meu apoio", tuitou.
A nova premiê será responsável por liderar as negociações para a saída do Reino Unido da UE, destino de metade das exportações britânicas, e, ao mesmo tempo, manter equilibrados o governo e a economia do país, abalados pela votação do mês passado. A libra registrou nesta semana seu pior valor em mais de três décadas.
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