Estado de emergência é 'fim declarado' da democracia turca, afirma entidade
O estado de emergência na Turquia, anunciado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan nesta quarta-feira (20), é "o fim declarado da democracia" no país, afirma Mustafa Göktepe, presidente do Centro Cultural Brasil-Turquia.
"O estado de emergência é o fim declarado da democracia. Faltam poucas coisas, o fim das negociações com a União Europeia, e aliança com a OTAN [aliança militar ocidental]. Se for assim, a Turquia realmente vai ser um país isoladíssimo, em que Erdogan e seus simpatizantes vivem em paz, o resto vive um exílio, como numa prisão ao ar livre", disse Göktepe, em entrevista coletiva nesta quinta (21).
Daniel Mihailescu/AFP | ||
Manifestantes pró-Erdogan se reúnem na praça Taskim, em Istambul, na terça (19) |
O centro se apresenta como entidade inspirada no movimento Hizmet, criado por Fethullah Gülen, quem o governo turco acusa de responsável pela tentativa de golpe da sexta-feira (15).
Na coletiva desta quinta, Göktepe manifestou preocupação com o que vê como perseguição a todos os ligados ao Hizmet e a Gülen, e a quem mais discordar das políticas de Erdogan. Ele citou o caso de uma localidade, na Turquia, onde um prefeito se recusou a ceder túmulos para quem fosse alinhado ao movimento.
O jornalista Kamil Ergin, editor do site Voz da Turquia, cita outros relatos de perseguição que recebeu de seu país, após a tentativa de golpe: pichações e invasões em prédios de simpatizantes do Hizmet, destruição de uma escola, uma placa colocada na praça Taskim gritando slogan contra os "cachorros de satã". Cita ainda o receio com a situação dos parentes dos simpatizantes.
Ergin também se disse preocupado com a liberdade de imprensa turca. Segundo ele, não há hoje um veículo crítico em atividade.
Segundo o jornalista, ainda foi estabelecida uma linha telefônica que oferece recompensa para quem informar sobre membros do movimento.
GOLPE
O jornalista disse desconfiar das condições que cercaram a tentativa de golpe, na sexta. Cita, entre outros exemplos: o golpe não ter ocorrido de madrugada (como os golpes militares anteriores), os líderes no governo não terem sido presos e as principais emissoras de TV terem continuado transmitindo mensagens de Erdogan e seus aliados.
O presidente do Centro Cultural Brasil-Turquia diz não acreditar que a tentativa de golpe tenha sido uma encenação de Erdogan. "Acredito que ele tinha conhecimento [do golpe em potencial] e deixou acontecer. Ele sabia que ia sair forte."
Apesar da onda de expurgos após a sexta (15), Göktepe ressalvou sua posição contra a tentativa de golpe. "Um golpe é sempre ruim, consequência boa não existe."
O professor da USP Peter Demant, também presente à coletiva do centro, disse não acreditar que o projeto de Erdogan seja instaurar uma ditadura verdadeira no país, mas "concentrar poder para implementar gradativamente um programa de reislamização da Turquia".
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis