Série de ataques terroristas incentiva extremistas a imitar ações anteriores
Enquanto a facção terrorista Estado Islâmico perde terreno no Oriente Médio, a Europa enfrenta com ansiedade uma onda de atentados que gera uma forte sensação de insegurança e alimenta radicalismos e intolerância entre a população.
Parece um paradoxo, mas é a estratégia bem-sucedida encontrada pelo EI para continuar a "mobilizar suas tropas, transmitir sua propaganda e recrutar mais 'soldados'", explica a professora do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade Stanford Cécile Alduy.
Geoffroy van der Hasselt/AFP | ||
Moradores de Paris prestam homenagens às vítimas dos últimos ataques terroristas na França nesta terça |
"Cada ataque terrorista leva outros candidatos a radicais a partirem para a ação", disse à Folha, por e-mail.
"Há um efeito de imitação. Indivíduos radicalizados fascinados pela violência e ideologia radical islâmica usam ataques anteriores como modelos para suas próprias ações terroristas", explicou.
Segundo ela, mesmo que a sequência de atentados ocorra de forma espalhada e caótica, e que haja poucas evidências de uma ligação real deles com o EI, há algo que liga esses atentados.
"O denominador comum que as pessoas não deixam de perceber é o radicalismo islâmico, bem como o perfil sucinto dos terroristas: imigrantes ou descendentes de imigrantes, agora refugiados sírios. Isso parece o suficiente para validar o discurso da extrema-direita", disse.
DISCURSO POLÍTICO
Alduy atualmente desenvolve um projeto de pesquisa sobre políticas de identidade e a extrema-direita na França. Este tema, ela explica, se reflete fortemente na reação social e política da Europa à recente onda de atentados.
"Quando o medo, a tristeza, a raiva e a confusão prevalecem —e quem pode culpar os europeus por se sentirem assim neste momento?—, as pessoas querem soluções rápidas e radicais", explicou, indicando o que impulsiona a resposta política radical.
"Minutos após o ataque em Nice, políticos franceses aproveitaram o momento para lançar polêmicas gratuitas", disse, criticando a escalada violenta da retórica e as medidas propostas contra imigrantes e refugiados muçulmanos, "todos vistos como potenciais terroristas".
Segundo ela, há pouco espaço e nos discursos públicos para análises com nuances. "É importante lembrar que 99% dos muçulmanos na França são cidadãos pacíficos que também estão com medo e tristes", diz.
refugiados
A pesquisadora diz que a avaliação vale também para os refugiados, que acabam sendo associados à escalada de ataques. "A Europa recebeu mais de um milhão de refugiados ao longo dos últimos 2 anos. Assim, a proporção de envolvidos em terrorismo é infinitesimal", diz.
Para ela, entretanto, a opinião pública não dá atenção a este dado. "O que importa é a percepção de uma ameaça pelo fluxo de refugiados, e apenas um ou dois acontecimentos irão confirmar as opiniões de quem já está convencido de que isso é um perigo", explica.
Além disso, ela complementa, o próprio EI se aproveita dos refugiados para criar medo e divergência na Europa. "Isso está alimentando sua retórica bem", diz.
A resposta, ela defende, deveria ser diferente. "Em um Estado de Direito, não se pode punir preventivamente, e não se pode ter como alvo as comunidades, minorias étnicas ou religiosas", explica.
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