Erdogan rejeita críticas sobre reação da Turquia à tentativa de golpe
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou nesta sexta (29) militares americanos de "defenderem golpistas", em alusão ao fato de os EUA abrigarem o clérigo autoexilado Fetullah Güllen, a quem o líder turco acusa de orquestrar a tentativa de golpe frustrada do último dia 15.
O general americano Joseph Votel, chefe do Comando Central dos EUA, reclamou publicamente que parte dos militares turcos com quem os EUA dialogam está na prisão.
"Em vez de agradecer este país, que repeliu um golpe, você defende o lado dos golpistas. O golpista já está em seu país", disse Erdogan a Votel, referindo-se a Gülen.
Ozan Kose/AFP | ||
Apoiadores de Erdogan em ato contra a tentativa de golpe na semana passada, em Istambul |
O clérigo de 75 anos nega envolvimento com o golpe.
Erdogan voltou a rejeitar as críticas de governos do Ocidente sobre a forma como a Turquia lidou com o episódio. "Alguns nos dão conselhos, dizem-se preocupados. Preocupem-se com seus próprios assuntos", afirmou.
Desde o levante, mais de 18 mil pessoas foram detidas, e 9.677 delas foram formalmente presas, segundo Efkan Ala, ministro do Interior. Nesta sexta (29), ele também anunciou o cancelamento dos passaportes de 49.211 pessoas que teriam relação com Gülen.
Confrontos na noite do dia 15 deixaram 246 mortos e mais de 2.200 feridos. Outras dezenas de milhares de pessoas perderam o emprego, incluindo professores, militares, juízes, jornalistas e servidores suspeitos de laço com Gülen.
Na quinta (28), James Clapper, diretor nacional de inteligência dos EUA, disse que o expurgo afetaria o combate à facção terrorista Estado Islâmico na Síria e no Iraque.
CERCO À IMPRENSA
Em comunicado enviado à Folha nesta sexta (29), por meio do consulado turco em São Paulo, o governo Erdogan disse que está investigando apenas jornalistas que apoiam o movimento Hizmet, ligado a Gülen, "antes ou durante a tentativa de golpe".
"Está claro que os possíveis atos atribuídos a essas pessoas, se provados, não podem ser considerados trabalho jornalístico. (...) As autoridades judiciais consideram sensato processar qualquer pessoa que tenha apoiado o golpe sangrento, independentemente de sua profissão, já que tais atos constituem crime", afirma a nota.
Na quarta (27), o governo fechou 131 veículos de comunicação –entre eles 45 jornais, 23 rádios e 16 TVs– e emitiu ordem de prisão contra 47 jornalistas, que se somaram a 42 detidos segunda. Segundo o comunicado, "os direitos legais de todos os suspeitos estão sob proteção, de acordo com as regras do estado de emergência".
Organizações ocidentais de apoio à liberdade de imprensa condenaram as detenções desta semana e o fechamento dos veículos de mídia, parte dos quais já sofria intervenção do governo.
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