Erdogan diz que líderes deveriam ter reagido a golpe como ataque em Paris
Em sua primeira entrevista à imprensa ocidental desde a tentativa de golpe na Turquia, o presidente Recep Tayyip Erdogan enviou nesta segunda-feira (8) um recado a líderes internacionais: eles deveriam ter reagido da mesma maneira com que reagiram, por exemplo, após um atentado terrorista em Paris.
"O mundo todo reagiu ao ataque contra o 'Charlie Hebdo'. Nosso primeiro-ministro se uniu à marcha nas ruas de Paris", afirmou Erdogan ao jornal francês "Le Monde". "Eu esperaria que os líderes do mundo ocidental reagissem da mesma maneira ao que aconteceu na Turquia e que não se contentassem com alguns clichês."
Umit Bektas/Reuters | ||
O presidente Recep Tayyip Erdogan, durante anúncio de estado de emergência de 3 meses na Turquia |
No dia 15 de julho, uma tentativa de golpe militar na Turquia deixou mais de 240 mortos. Erdogan comparou o evento ao ataque ao semanário satírico francês "Charlie Hebdo", em janeiro de 2015, com 12 mortos. À época, houve extensa manifestação internacional pró-França.
Erdogan reclamou, durante a entrevista ao "Le Monde", da falta de "empatia" da liderança europeia. Ele também demonstrou desagrado diante das constantes críticas a sua reação à tentativa de golpe militar nesse país.
ESTRANGEIROS DETIDOS
O vice-premiê turco, Numan Kurtulmus, afirmou nesta segunda-feira que dez estrangeiros haviam sido detidos pela suspeita de ter laços com Fetullah Gülen. Clérigo autoexilado nos Estados Unidos, Gülen é acusado por Erdogan —seu antigo aliado— de estar por trás da tentativa de golpe do último dia 15. O clérigo nega ter qualquer participação na tentativa de golpe.
Não há, por ora, detalhes a respeito da nacionalidade dos detidos. Ao menos um deles entrou ilegalmente via Síria no sábado (6), segundo o governo.
EXPURGO
Erdogan tem punido severamente diversos setores da população. Mais de 10 mil militares foram presos, 2.745 juízes foram afastados e 8.777 funcionários de segurança pública foram exonerados, entre outras vítimas do expurgo. A imprensa também tem sido perseguida.
Neste domingo (7), o presidente reuniu centenas de milhares em uma manifestação em Istambul. Agências de notícias relatavam mais de um milhão de participantes, incluindo partidos de oposição, no que foi interpretado como uma demonstração de força do presidente turco.
Osman Orsal/Reuters | ||
Turcos participam de ato em apoio ao presidente Recep Tayyip Erdogan, em Istambul, neste domingo (7) |
Erdogan tem repetidamente reclamado da falta de apoio de líderes europeus e dos EUA. Para ele, o país foi abandonado —e sua adesão à União Europeia, escanteada, apesar do recente acordo para o controle do fluxo de refugiados que poderia resultar na facilitação para vistos.
O presidente afirmou que o trato pode entrar em colapso caso a UE não mantenha a sua parte em relação aos vistos. É esperado que a Turquia ajude a frear a ida de refugiados para o bloco europeu.
"O mundo ocidental contradiz os valores que defende. Deveria ser solidário à Turquia. Infelizmente, preferiu deixar os turcos sozinhos", disse ao "Le Monde".
O presidente turco voltou a mencionar, também, a pena de morte, que o país aboliu em 2004. Ele havia mencionado essa possibilidade durante a manifestação de domingo. Ao jornal, disse que a questão terá que ser votada pelo Parlamento caso haja apoio popular.
Um porta-voz da chancelaria alemã afirmou nesta segunda que o retorno da pena de morte na Turquia encerraria sua tentativa de entrar na União Europeia.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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