Lei proíbe 'burquíni' em praias de Cannes até o fim da temporada
Em meio à polêmica proibição dos "burquínis" das praias de Cannes, no sul da França, o prefeito da cidade, David Lisnard, afirmou nesta sexta-feira (12) que tomou a medida "em um contexto de estado de emergência".
"Não proibimos o véu, a quipá ou a cruz. Apenas proibimos uma vestimenta que é o símbolo do extremismo islâmico", disse Lisnard em entrevista ao jornal "Nice-Matin". Ele é do partido de centro-direita Os Republicanos, o mesmo do ex-presidente Nicolas Sarkozy.
Os burquínis —mistura da vestimenta islâmica burca com um biquíni— ficarão banidos das praias de Cannes até o dia 31 de agosto, após decreto municipal aprovado no fim de julho para o último mês da temporada de verão na cidade. Aqueles que violarem a norma estão sujeitos a multa de 38 euros (cerca de R$ 135).
"Roupas de banho que manifestem afiliação religiosa de forma ostentatória, enquanto a França e seus locais religiosos são atualmente alvos de ataques terroristas, poderia criar um risco de distúrbios da ordem pública", afirmou o prefeito. Ele disse que a lei também pode se aplicar aos saris usados por mulheres indianas, pois a vestimenta poderia atrapalhar esforços de resgate em caso de uma emergência.
Anoek de Groot/AFP | ||
Modelo australiana Mecca Laalaa usa 'burquíni' desenhado pela estilista Aheda Zanetti |
Associações como a Federação dos Muçulmanos do Sul e a Liga de Direitos Humanos criticaram a medida. Lisnard rebateu, classificando a federação como "sectária". O Coletivo Contra a Islamofobia na França afirmou que vai entrar na Justiça contra a lei.
A lei francesa já proíbe véus que cubram o rosto em locais públicos. Defensores das medidas alegam que elas preservam os valores seculares da França e protegem as mulheres da opressão religiosa.
Críticos, porém, afirmam que essas leis aprofundam as divisões religiosas e dão uma justificativa a grupos extremistas como o Estado Islâmico para atacar o país.
O governo francês estuda como regular a comunidade muçulmana de seu país e transformar o "islã na França" em um "islã francês", combatendo extremistas no território de sua narrativa.
Entre as medidas já em debate está a proibição do financiamento externo para a construção de mesquitas.
ATAQUES EM JULHO
No último 14 de julho, um ataque terrorista em Nice, também no sul da França, deixou 85 mortos e centenas de feridos, depois que um caminhão avançou sobre uma multidão que celebrava o feriado da Queda da Bastilha.
Duas semanas depois, radicais decapitaram um padre católico no norte da França, em ataque reivindicado pelo Estado Islâmico.
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