Fundação Clinton é um obstáculo para Hillary chegar à Presidência dos EUA
Drew Angerer/Getty Images/AFP | ||
A candidata democrata Hillary Clinton, junto ao marido, o ex-presidente Bill Clinton, em comício em NY |
Se o ditado diz que o maior inimigo do homem é ele mesmo, um dos maiores obstáculos entre Hillary Clinton e a Casa Branca leva seu nome.
A Fundação Clinton foi criada em 2001 para combater do HIV à obesidade, e, de quebra, preservar o legado de Bill Clinton, recém-saído da Presidência. Esse é seu lado bom.
Para rivais, a instituição é um manancial de escândalos -ONG que revela laços do clã com grandes corporações e governos de histórico questionável em direitos humanos.
A proximidade com a elite global seria por si só indigesta para o eleitorado, mas a questão é mais complicada: parte dos US$ 2 bilhões arrecadados pela fundação em 15 anos chegou aos cofres quando Hillary era secretária de Estado (2009-13) de Obama.
O elenco de financiadores contempla governos (Arábia Saudita, Kuait), celebridades (Leonardo DiCaprio, Steven Spielberg), bancos que ajudaram a empurrar os EUA para a crise (Lehman Brothers, Goldman Sachs), grandes empresas (Coca-Cola, ExxonMobil), brasileiros (Itaú Unibanco, Andrade Gutierrez, Lily e Joseph Safra) e até o rival republicano, Donald Trump, ex-amigo dos Clinton.
"A fundação borra os limites entre caridade, negócios, política e serviço público", diz à Folha John Wonderlich, da Fundação Sunlight, que monitora a transparência governamental.
Um dos exemplos é a relação com os países do golfo Pérsico. Após o ataque a uma boate LGBT em Orlando, em junho, Hillary declarou: "Já passou da hora de Arábia Saudita, Qatar e Kuait impedirem seus cidadãos de financiar organizações extremistas".
Trump foi à forra: "Peço que ela devolva imediatamente os US$ 25 milhões, no mínimo, que recebeu [desses países] para sua fundação!".
Só os sauditas enviaram à fundação de US$ 10 milhões a US$ 25 milhões, segundo a ONG (que divulga as ofertas por faixas, sem valores exatos).
O adversário também explora a divergência entre a política dessas nações e os valores defendidos por Hillary. A Arábia Saudita, por exemplo, prevê pena de morte para gays e proíbe mulheres de dirigir.
Em outro exemplo, ao menos 60 companhias que fizeram lobby (atividade legal nos EUA) com o Departamento de Estado sob a batuta de Hillary doaram mais de US$ 26 milhões para a organização.
-
Alguns doadores da Fundação Clinton
Governos
Arábia Saudita
Kuait
Omã
Argélia
Noruega
Qatar
Austrália
Empresas
ExxonMobil
General Electric
Microsoft
Coca-Cola
Bancos
J.P. Morgan
Lehman Brothers
Goldman Sachs
Celebridades
Leonardo DiCaprio
Steven Spielberg
Oscar de La Renta (1932-2014)
Donald Trump
Brasileiros
Lily e Joseph Safra
Itaú Unibanco
Santander Brasil
Andrade Gutierrez
Oi Móvel
Confederação Nacional
da Indústria
-
Só a ExxonMobil, petroleira que teve aval para novas perfurações na época, deu US$ 2 milhões -fora US$ 16 milhões para outra organização de caridade da democrata.
Ao se tornar chanceler, Hillary prometeu evitar conflitos de interesse. E-mails vazados, contudo, mostram que assessoras da hoje candidata prometeram ajudar um doador nigeriano, ex-consultor de um ditador local já morto.
Para desativar essa bomba-relógio eleitoral, a democrata se comprometeu, na semana passada, a vetar contribuições de estrangeiros caso eleita.
A lei eleitoral americana proíbe doações internacionais –um brasileiro, por exemplo, não pode comprar o boné "Make America Great Again" no site de Trump, já que a renda da mercadoria vai para a campanha do republicano.
Para os críticos, mesmo sem troca explícita de favores, muitos doadores deviam esperar algum retorno ao despejar milhões justamente na Fundação Clinton. Doar para a fundação, portanto, seria um cortejo à possível futura presidente dentro de limites legais, mas nublados.
Aliados rebatem, como o governador da Virgínia, Terry McAuliffe: "Se o maior ataque contra Hillary for ela ter levantado muito dinheiro para caridade, posso aceitar".
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis